O futuro anel de cabos submarinos que vai ligar o Continente e as ilhas, está a gerar contestação nos Açores, embora a empresa responsável pelo projeto insista que a escolha da configuração teve apenas preocupações técnicas.
“A escolha da configuração teve uma preocupação única de garantir uma total redundância à Região Autónoma dos Açores e de interligação com a atual e futura rede interilhas, ao contrário da atual configuração, a qual está totalmente dependente da ilha de São Miguel”, justifica o diretor-geral da IP Telecom, numa carta enviada ao parlamento açoriano.
O ofício, a que a Lusa teve ontem acesso, surge em resposta a uma petição entregue na Assembleia Legislativa dos Açores, cujo primeiro subscritor é Mota Vieira, engenheiro de comunicações, que defende a realização de um estudo para determinar a que ilhas devem ficar ligados os cabos submarinos que vêm do Continente e da Madeira.
“O cabo principal, vindo do Continente, deve ficar ligado à ilha de São Miguel, que é a maior ilha da região”, defendem os assinantes da petição, acrescentando que a ligação do cabo secundário deva ser estudada, admitindo que apenas essa possa ficar instalada noutra ilha da região.
O projeto do futuro cabo de fibra ótica, designado por Atlantic CAM, entretanto lançado a concurso, prevê a configuração de um “anel puro” entre o Continente os Açores e a Madeira, com duas estações de amarração em cada vértice: Carcavelos e Sines, Terceira e São Miguel, e Funchal e Machico.
“A configuração definida permitirá, sempre que uma ilha sofra algum tipo de catástrofe, vendo-se impedida de prestar o serviço de comunicações com as demais ilhas, por via de uma configuração de anel puro, possam subsistir interligações” com o restante arquipélago, pode ler-se no referido ofício da IP Telecom.
A empresa adianta ainda que o novo cabo de fibra ótica terá “100 vezes mais” a capacidade do atual anel, que está a terminar o seu período de vida útil, garantindo, por isso, que a ligação Continente/Terceira não irá provocar atrasos (latências) nas comunicações entre São Miguel e o Continente.
“As latências entre a ilha de São Miguel e o Continente serão da mesma ordem de grandeza das existentes no atual anel CAM”, refere o diretor–geral da IP Telecom, lembrando que o futuro cabo de fibra ótica terá uma distância entre o continente português e a ilha de São Miguel, “inferior à atual, em cerca de 50 quilómetros”.
Opinião contrária têm os subscritores da petição, que consideram que a maior economia dos Açores, situada na ilha de São Miguel, será “fortemente penalizada”, se o cabo principal de fibra ótica entre o Continente e os Açores, ficar ligado à ilha Terceira.
“Esta configuração irá trazer consequências negativas para a principal economia dos Açores”, alertou Mota Vieira, durante a audição parlamentar, adiantando que uma empresa tecnológica que pretenda instalar-se nos Açores, não vai querer vir para São Miguel, depois de saber que não há ligações da fibra ótica diretas com o Continente.
A nova configuração dos cabos submarinos agrada, no entanto, a João Cadete de Matos, presidente da ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações), que também foi ouvido pela comissão parlamentar de Economia, considerando que a ilha de São Miguel “não sairá” prejudicada com o novo desenho”.
“Não foi a ANACOM que definiu esta nova configuração, mas parece-nos que a solução corresponde ao que era exigido”, insistiu João Cadete de Matos, recordando que a uma condição imposta pela ANACOM é que o futuro anel tivesse cabos de amarração em ilhas diferentes, situação que está contemplada no novo desenho.
Também o subsecretário regional da Presidência, Pedro Faria e Castro, igualmente ouvido pelos deputados, concorda com a solução proposta para o novo cabo de fibra ótica entre o Continente e os Açores, garantindo, porém, que o novo desenho é responsabilidade da República
“Temos aqui uma solução que nos foi proposta pelo Governo da República e sobre a qual a Região colocou, à partida, duas condições: que existissem dois pontos de amarração e que esses pontos fossem em ilhas diferentes, de forma a que fosse assegurada a redundância”, explicou o governante.