Miguel Albuquerque tornou-se hoje no primeiro presidente de um Governo Regional da Madeira a ‘cair’ com a aprovação de uma moção de censura ao executivo, quase 10 anos depois de ter chegado ao cargo e após vencer quatro eleições.
Foi em 29 de março de 2015, menos de três meses depois de chegar à liderança do PSD/Madeira, que Miguel Albuquerque venceu pela primeira vez umas eleições para a Assembleia Legislativa Regional.
Para trás ficavam 37 anos com Alberto João Jardim à frente do Governo da Madeira, numa sucessão de maiorias absolutas que Albuquerque ainda conseguiu manter nas regionais de 2015.
Nas três eleições seguintes, em 2019, 2023 e nas antecipadas de maio, os sociais-democratas falharam o objetivo de alcançar a maioria dos 47 lugares do parlamento insular.
Mas, se em 2019 foi fácil contornar a questão, com o PSD a garantir a maioria com o CDS-PP, em 2023 (quando concorreu coligado com os democratas-cristãos) foi necessário negociar um acordo de incidência parlamentar com o PAN. Este ano, novamente a solo na corrida, os sociais-democratas (19 eleitos) fizeram um acordo após o sufrágio com o CDS-PP (dois), insuficiente, porém, para alcançar os 24 assentos exigidos para uma maioria absoluta.
Agora, com a queda do executivo provocada pela aprovação, com os votos a favor de toda a oposição, da moção de censura apresentada pelo Chega - e justificada pelo partido com os processos judiciais envolvendo Albuquerque e quatro secretários regionais, constituídos arguidos em casos distintos – o líder do PSD/Madeira poderá estar novamente a caminho de mais uma disputa eleitoral, pois já garantiu que vai pedir o regresso às urnas.
Nem o facto de em janeiro ter sido constituído arguido, num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção na Madeira, nem a possibilidade de a sua liderança no partido ser posta em causa o parece demover dessa intenção: “Se for necessário, vamos para eleições e vamos ganhar as eleições”, disse na semana passada aos jornalistas, depois de a proposta de Orçamento Regional para 2025 ter sido chumbada.
Na vida política desde meados da década de 1980, quando integrou o Movimento de Apoio a Mário Soares para as presidenciais de 1986, Miguel Albuquerque estreou-se em eleições nas legislativas regionais de 1988, nas listas do PSD, entrando pela primeira vez para o parlamento madeirense. Quatro anos mais tarde repetiu a eleição, quando também já liderava a JSD/Madeira (1990-1992). Entre 1992 e 1995, foi secretário-geral adjunto do PSD/Madeira.
Em 1993, deixa a advocacia – tinha escritório aberto no Funchal desde 1986, altura em que regressou à Madeira depois de uma passagem por Lisboa para tirar a licenciatura em Direito - para ser número dois na lista do PSD à Câmara Municipal do Funchal, encabeçada por Vergílio Pereira.
No ano seguinte, Albuquerque assumiu a presidência da câmara, após a demissão de Vergílio Pereira, só deixando o município devido à lei de limitação de mandatos, em 2013, e depois de vencer com maioria as autárquicas de 1998, 2001, 2005 e 2009. Nessa altura, regressou à advocacia.
Enquanto esteve à frente da maior autarquia madeirense foi igualmente presidente da Associação dos Municípios da Madeira (1994-2002), vice-presidente do PSD/Madeira e responsável pelo conselho de jurisdição da estrutura regional do partido, cargo a que renunciou, em abril de 2011, por discordar da linha política seguida.
Foi, aliás, no final do mandato na presidência da Câmara do Funchal que o clima de crispação com o presidente do Governo Regional e do PSD/Madeira se acentuou.
E acabou mesmo por ser aquele que anos antes foi considerado o ‘delfim’ de Alberto João Jardim o primeiro a questionar a sua liderança de 40 anos no PSD/Madeira, numas eleições diretas disputadas em 2012, das quais Albuquerque saiu derrotado por 142 votos.
Em dezembro de 2014 voltou a concorrer à liderança da estrutura partidária, apresentando-se como um dos seis candidatos à sucessão de Jardim. Depois da vitória na primeira volta, com 47,2% dos votos, na segunda volta - contra Manuel António Correia - alcançou 64%, tomando posse como presidente dos sociais-democratas madeirenses em 10 de janeiro de 2015.
O confronto com Manuel António Correia para a presidência do PSD/Madeira foi reeditado em março deste ano, já depois da queda do executivo provocada pela sua demissão da liderança do Governo Regional após ter sido constituído arguido. Mas, uma vez mais, Albuquerque saiu vitorioso.
Somar mais uma vitória, caso a região volte novamente às urnas nos próximos meses, é o objetivo já traçado por Miguel Albuquerque: “Se a oposição deitar o governo abaixo, nós vamos exigir eleições e vamos às eleições para ganhar”, disse já este mês, reiterando hoje esse objetivo e assegurando que não serão realizadas eleições internas no partido.
Assim, aos 63 anos, mais de 30 anos depois de ter visto pela primeira vez o seu nome numas listas do PSD à Assembleia Legislativa da Madeira, Albuquerque voltará a resgatar um dos ensinamentos – a persistência - que lhe ficaram da juventude, quando batia recordes regionais de natação.
"Aprendi uma coisa na natação muito importante que foi a autodisciplina, aquela ideia do treino, de ter horas marcadas para as coisas, do sacrifício, da persistência, da determinação", revelou Miguel Albuquerque numa entrevista anterior, confessando que ainda hoje esses ensinamentos lhe são úteis na política.