“Fui, na verdade, surpreendido com o contexto. Vamos avaliar os conteúdos, vamos tomar conhecimento e assumir a responsabilidade da liderança na governação”, disse José Manuel Bolieiro.

Esta citação foi retirada das declarações do presidente do Governo Regional a propósito do imbróglio criado pelo novo administrador da SATA sobre o encerramento das lojas da companhia em todas as ilhas.

Não me admiro de ouvir frases destas da boca de Bolieiro. O presidente que se nos apresentou como homem sério, sereno e amante da tranquilidade, na verdade já não surpreende ninguém com as suas afirmações.

Ele é que ficou surpreendido com a decisão de Rui Coutinho de entregar às lojas RIAC a venda de passagens da SATA. Não manifestou estranheza; apenas surpresa.

A sua secretária regional dos Transportes já tinha afirmado, perante a mesma decisão, que o Governo não interfere na administração da SATA. Muito bem.

Então se é como Berta Cabral diz, por que razão vem agora o presidente do Governo dizer que vai “assumir a responsabilidade da liderança na governação”? Depois de tudo o que mexe na sociedade açoriana já ter vilipendiado a decisão? Afinal o Governo sempre tem alguma coisa a ver com a administração da SATA.

E Bolieiro acrescenta que vai “tomar conhecimento” e “avaliar conteúdos”. A pergunta que se impõe é esta: o que esteve ele a fazer até agora?

Que raio de Governo é este!

Sobre o problema das creches que o CHEGA levantou na Assembleia Regional e que tem sido muito falado pelo que me dispenso de o escalpelizar aqui, ainda foi pior.

“Estamos a estudar e a avaliar se há necessidade”, disse, mais uma vez, o presidente do Governo.

O CHEGA apresenta a proposta, naturalmente em prévia combinação com o Governo, Mónica Seidi aceita, os partidos da coligação votam a favor, e agora é que o Governo vai avaliar. Mas não deviam ter avaliado antes para decidirem o seu voto?

Também não houve nenhum deputado da maioria que se lembrasse disso, o que é natural, tão ocupados que andam em tecer loas ao Governo, sobretudo ao seu presidente. É um sinal: quanto mais estamos convencidos disto, mais queremos convencer os outros de que estamos convencidos daquilo.

Alguém talvez compreenda esta barafunda, ou melhor, esta desorganização, ou, talvez melhor ainda, tanta incompetência. Eu não compreendo. Só encontro uma explicação e é simples: não temos quem nos governe.

Estes são dois exemplos recentes. Não me apetece escrever sobre outros. Fica para a próxima.

Se qualquer uma destas situações impunha imediatamente a demissão do presidente do Governo, por maioria de razão as duas de uma penada só. Não pelas duas medidas simplesmente, mas pelo que significam de ausência de liderança. Sempre ouvi dizer que em casa de alguém, alguém manda. Parece não ser o caso na casa de Bolieiro.

O presidente da Assembleia Regional, o faialense Luís Garcia, que decidiu fazer do exercício do seu cargo aquilo que faz, no espaço público, qualquer popstar, não canta, assobia para o lado. Depois de já ter erguido a sua voz sobre tanta coisa que apenas ao Executivo compete, esperava-se que, agora, puxasse as orelhas a alguém. Podia começar por Berta Cabral, continuar em Mónica Seidi, terminando em José Manuel Bolieiro.

O problema é que isto já não vai lá com remodelações.