Carlos Faria

Um centenário e um exemplo de cooperação

19 de Agosto de 2024


No passado dia 15 de agosto ocorreu o centenário da fundação da Sociedade Filarmónica Recreio Musical Ribeirinhense, uma instituição cultural deste género e numa freguesia rural com menos de 400 habitantes, só pode sobreviver com um esforço hercúleo dos seus músicos, dirigentes e colaboradores.

Para já, envio os meus Parabéns à institiuição e presto homenagem a todos os que, neste momento e no passado, tanto fazem ou fizeram para que a arte da interpretação musical se mantenha viva nesta filarmónica.

As cerimónias comemorativas decorreram com a dimensão e dignidade possível numa comunidade tão pequena como a Ribeirinha, mas destaco o reconhecimento desta instituição com a atribuição, no Dia da Região Autónoma dos Açores, da insígnia de Mérito Cívico e o Festival de Bandas Filarmónicas que decorreu no passado fim de semana e contou com cinco filarmónicas desta ilha.

Vi algo que já presenciara nos concertos das filarmónicas da passada Semana do Mar: a existência de músicos que tocam em várias bandas, um exercício de cooperação e entreajuda que, não só estimula e transmite conhecimento às mais pequenas, como também permite a sobrevivência desta arte em localidades onde é muito difícil manter instituições deste género.

Assim, no festival de bandas na Ribeirinha, vi que quando uma filarmónica terminava o seu concerto (cujo conjunto foi bem variado em género musical, mas sempre pautado pela qualidade de interpretação e regência), parte dos tocadores acabados de sair do palco se juntava à banda seguinte e depois tocava com o mesmo empenho com que o fizera no anterior, havendo, inclusive, um regente comum a duas filarmónicas.

Este fenómeno impressionou-me pela positiva. Nas últimas décadas passei a viver numa época e numa terra onde a cooperação parece que tinha deixado de existir. Todos estão prontos para a crítica destrutiva do outro, quer seja de um dirigente de instituição diferente, de um partido adversário ou de um simples sucesso público de um cidadão comum. Situação agravada no uso das redes sociais, onde é, várias vezes, a coberto de um anonimato cobarde.

O Faial atual é habitado por escassa gente disponível a cooperar, a disponibilizar-se para manter vivas as suas instituições que tanto fizeram por esta terra, faltam pessoas para colaborar para o bem-público de forma voluntária.

Fui autarca num período com características bem diferentes das que vejo hoje em dia, então, uma parte significativa do realizado ficou-se a dever à própria cooperação da população com autarquia, que contava com o apoio institucional das autoridades regionais e locais, mas só viabilizado pelo voluntariado das pessoas, várias vezes gracioso e cujos benefícios resultantes eram de todos.

Nem tudo correu bem. Também se cometiam erros e ficavam coisas por fazer. Também havia crítica destrutiva gratuita, além da muita construtiva, mas era uma competitividade globalmente saudável.

Hoje, vejo indisponíveis para cooperar sempre prontos para uma farpa. Parece que para qualquer  atividade existe um gabinete de emergência para a crítica destrutiva. Para qualquer obra em concretização, existe um batalhão de lupa a procurar defeitos e a denunciar outra obra menor ao lado ainda por fazer.

Será que a ilha do Faial está a ganhar alguma coisa com tanta guerrilha destrutiva? Temo bem que não. Pois só vejo resultar desânimo nos inicialmente entusiastas, renúncia nos que foram voluntaristas devido a tanto dardo com que agora são atingidos todos os que fazem algo público.

Contudo, o exemplo que vi na cooperação nas bandas talvez seja uma semente de esperança que ainda sobre nos Faialenses. Desejo que frutifique e se expanda a outros campos em benefício da nossa sociedade e ilha. Quiçá permita que floresçam de novo estratégias de desenvolvimento sociocultural e económico de longo-prazo e o Faial volte à pujança que teve com gente que preferia puxar pela sua Terra no lugar de destruir os que ainda fazem alguma coisa comunitária no Faial.

No passado dia 15 de agosto ocorreu o centenário da fundação da Sociedade Filarmónica Recreio Musical Ribeirinhense, uma instituição cultural deste género e numa freguesia rural com menos de 400 habitantes, só pode sobreviver com um esforço hercúleo dos seus músicos, dirigentes e colaboradores.

Para já, …





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