Jorge Moreira Leonardo

Matias Simão

25 de Setembro de 2024


Capítulo VII

Durante a boda apareceram três espanhóis a cavalo que,  por razões que só mais tarde viriam a ser conhecidas, exigiram de forma imperiosa e que denotava alguma ansiedade, que o André viesse à fala com eles. Dirigiram-se à casa a pretexto de falarem mais à vontade. O José da Queimada que, tal como um rafeiro, seguia seu amo para todo o lado, também foi, embora guardando alguma distância, pois não fora convidado.

Já passava mais de uma hora sem que se percebesse o que se estava passando na casa, quando de repente escutaram um imenso fragor ao mesmo tempo que o armazém era violentamente sacudido. Correram todos para a rua mas não viram nada que justificasse tamanho estrondo. Primeiro pensaram tratar-se dum sismo, mas o Francisco da Eira que se deslocou ao centro da freguesia, viu toda a gente tranquila e voltou com essa notícia. Que se teria passado?

Foi então que Sebastião, o mestre que orientara a construção da casa e ao reparar que o patrão e os espanhóis não regressavam, e que não era possível terem ficado indiferentes perante tamanho estrondo, ordenou ao filho que, com cuidado, subisse ao monte e visse o que se teria passado do outro lado. Mal chegou perto do cume, o rapaz chamou com grande aflição pelo pai e os outros homens.

O que viram deixou-os horrorizados. O monte aluíra, devido às imensas chuvadas e às gigantescas ondas que fustigavam a terra, impiedosamente, e arrastara consigo a maior parte da casa. A escadaria que levava à fajã estava meio destruída também. Passado o espanto dos primeiros momentos, alguns dos homens presentes e que tinham acudido ao chamamento do Sebastião, filho, ainda falaram em descer o que restava do monte. Mas os mais assisados lembraram que o risco era muito grande e as possibilidades de encontrar alguém com vida eram praticamente nulas. E para quê? Para tentar salvar três inimigos, o André e o Queimada? O José do Mato, que já havia bebido uns copos valentes, chegou mesmo a dizer em tom de mofa: - Deixem vocemessês lá! O inferno não fica mais rico!

O tempo só amainou dois dias depois. Então, os homens mais afoitos, desceram, com imensas cautelas, o que restava do monte e voltaram com a notícia de que o André, o Queimada e os três espanhóis estavam mortos e os corpos tremendamente esmagados pelas lajes que rolaram com eles monte abaixo, o que tornava quase impossível a sua remoção.

Amélia, ao contrário da mãe, não chorou a morte do pai e ainda menos a do marido. Como chorar a morte de alguém que odiava e com quem casara apenas porque a vida para ela terminara com a morte do homem que amara. E do pai? Não a arrastara, só por ambição, para um casamento que, sabia, só lhe traria amargura?

Ei-la, no entanto, viúva de um homem com quem nunca  trocara um gesto de ternura,  e  de posse de  uma imensa fortuna.

Durante a boda apareceram três espanhóis a cavalo que,  por razões que só mais tarde viriam a ser conhecidas, exigiram de forma imperiosa e que denotava alguma ansiedade, que o André viesse à fala com eles. Dirigiram-se à casa a pretexto de falarem mais à vontade. O José da Queimada que, tal como um rafeiro, seguia seu …





Para continuar a ler o artigo torne-se assinante ou inicie sessão.


Contacte-nos através: 292 292 815.
313
Outros Artigos de Opinião
"O Esvaziamento Político e Social da Ilha do Faial"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Balanço da Temporada Náutica, Obras Estruturantes…"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Matias Simão"
Jorge Moreira Leonardo

FOLHETIM
.
"Santuário Natural da Caldeira em Risco "
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Matias Simão"
Jorge Moreira Leonardo

FOLHETIM
.
"Batalha do Brigue Amstrong – Um lugar esquecido"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"É melhor que não se saiba"
Rui Gonçalves

A ABRIR
.
"Matias Simão"
Jorge Moreira Leonardo

FOLHETIM
.
"Abrir os Olhos"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Eles vivem noutro mundo"
Rui Gonçalves

A ABRIR
.