Como primeira medida que Amélia assumiu, foi devolver a feitoria ao João Martins, exactamente o homem que teria sido seu sogro não fora a morte ainda envolta num grande mistério do José. No entanto, recomendou-lhe que fizesse tudo quanto possível para recuperar os corpos porque, apesar de tudo, como pessoa temente a Deus que era, queria dar a todos um enterro cristão.
Quando o feitor e alguns dos trabalhadores estavam, dentro do armazém, magicando uma maneira de resolver o problema, um deles exibiu um gesto de quem pede silêncio, pois acabava de distinguir, ainda que ao longe, o ruído produzido por cascos de cavalos.
Correram à porta e distinguiram um grupo de espanhóis que, era evidente, se aproximavam do local. Ficaram assustados, pois, pela primeira vez, lhes acudiu ao espírito que, entre os mortos, se encontravam três espanhóis, e o governo da ilha iria exigir explicações sobre o sucedido e não era de excluir a hipótese de levantarem suspeitas de que haviam sido assassinados. Era verdade que também haviam morrido o André e o seu homem de confiança, mas ninguém ignorava que, entre os cinco mortos, o povo da freguesia mandava de bom grado ao demo a escolha. Estremeciam só de pensar nas consequências.
Ao chegaram bem perto, as pessoas viram, espantadas, o José Martins montado na garupa do cavalo de um dos espanhóis. Nem queriam acreditar. Os mais crendeiros chegaram mesmo a fazer o sinal da Cruz. Só não manifestaram de imediato a sua alegria porque, desde a presença dos espanhóis na ilha, os motivos não abundavam e as notícias normalmente eram de mais tragédia Que faria o José no meio dos espanhóis? Seria por uma boa ou má razão? O tenente que comandava os soldados apeou-se, no que foi imitado pelos soldados e pelo próprio José. Este apresentava uma expressão feliz e correu de imediato para os braços do pai o que retirou a suspeita de que seria por coisa ruim. Então todos os presentes irromperam em manifestações de alegria e foram de corrida chamar a mãe dele a Amélia e restantes parentes e amigos. O tenente, logo que a euforia abrandou, pediu silêncio e perguntou pelos três espanhóis.
Depois de informado do que se passava ele próprio dirigiu os trabalhos de recuperação dos cadáveres, o que ocupou os espanhóis e alguns trabalhadores durante todo o dia.
Os espanhóis, absolutamente cientes de que a morte dos seus compatriotas se devera tão-somente a um acidente, pediram a colaboração das pessoas no sentido de improvisarem três caixões e de providenciarem o transporte dos corpos num carro de bois para o Castelo.