O Faial enfrenta um preocupante esvaziamento político e social que se arrasta há décadas. Este fenómeno, que se reflete em diversos setores, compromete gravemente o desenvolvimento local e a qualidade de vida dos seus habitantes.
Marginalização em Dossiês Regionais
Historicamente, o Faial ocupou um papel central na política açoriana, mas, atualmente, essa influência tem sido lentamente diluída. A ausência de faialenses no Governo Regional e nos lugares de decisão excutiva revela uma falta de representação que afeta diretamente a nossa ilha, especialmente num contexto em que o bairrismo e a falta de coesão regional se tornaram evidentes em muitas áreas da governação. Esta ausência estratégica em relação às nossas necessidades tem relegado o Faial a uma posição periférica, onde as suas vozes são demasiadas vezes ignoradas nos debates e decisões importantes.
Problemas antigos, como a ineficácia da SATA nas ligações aéreas, perpetuam o sentimento de abandono. As acessibilidades são cruciais para o desenvolvimento económico e social, afetando a economia e a qualidade de vida dos faialenses. Além disso, o Porto da Horta, outrora um ponto de referência no transporte marítimo, tem sofrido um desinvestimento progressivo, perdendo competitividade em relação a Ponta Delgada e Praia da Vitória. O desinvestimento nas suas infraestruturas é gritante, trazendo prejuízos a médio e longo prazo. Não existe parque de invernagem, os planos de reordenamento não são conhecidos e continuamos a ver embarcações a serem afastadas devido à falta de condições.
Negligência de Questões Estruturais
Dossiês essenciais têm passado de legislatura em legislatura sem uma resolução clara. Esta negligência, que se estende tanto ao Governo Regional como ao Governo da República, revela uma falta de compromisso na gestão do património e das infraestruturas no Faial. A Câmara Municipal da Horta é frequentemente secundarizada pelas instâncias regionais, o que aumenta a sensação de impotência e de falta de peso político para influenciar as decisões.
Nos últimos quatro anos, o distanciamento institucional intensificou esta sensação de abandono entre os residentes. O Governo Regional não reúne com o Conselho de Ilha, e não nos recordamos de nenhuma visita feita ao Faial por parte do Governo Regional, o que demonstra uma continuidade na forma de atuar e um claro desinteresse pelas necessidades e aspirações dos faialenses. Este isolamento político compromete não apenas a capacidade das entidades locais, mas também a coesão social da comunidade, minando a confiança nas instituições políticas.
Caso para dizer: “Quem não se lembra do passado está condenado a repeti-lo”.
Riscos para o Futuro da Ilha
Se esta situação persistir, enfrentamos desafios significativos para o nosso desenvolvimento, pois a falta de investimentos é um dos principais fatores que pode comprometer o nosso crescimento. Entre os riscos mais prementes está a falta de oportunidades para os jovens, uma consequência direta do escasso investimento em áreas como educação, inovação tecnológica, turismo e indústria. Sem um ambiente que promova o empreendedorismo e a criação de empregos qualificados, os jovens são levados a procurar melhores condições noutras ilhas ou mesmo fora do arquipélago, contribuindo para o fenómeno de despovoamento e envelhecimento da população.
Além disso, a ausência de investimentos adequados vai agravar ainda mais as infraestruturas já debilitadas, tornando a ilha menos atrativa para novos residentes e investidores. A dependência excessiva de setores tradicionais, sem a diversificação da economia, aumenta a vulnerabilidade da ilha e naturalmente irá comprometer o futuro.
A falta de políticas de desenvolvimento eficazes e a ausência de uma visão de longo prazo comprometem não apenas a retenção da população, mas também a capacidade da ilha de competir, onde estão a ser feitos avultados investimentos.
Conclusão
O esvaziamento político e institucional do Faial é um problema profundo que ameaça não apenas o presente, mas também o futuro da ilha. Para superar este desafio, é vital que as autoridades regionais mudem a sua abordagem, abandonando a política do "dividir para reinar" e devolvendo a atenção e o investimento que o Faial tão urgentemente necessita.
A persistência em aprovar planos e orçamentos com verbas insignificantes reflete uma falta de compromisso e uma história política de decisões adiadas. Estas decisões não apenas nos assombram, mas também moldam o presente, criando ciclos de erros e omissões que parecem não ter fim. Apesar das vitórias políticas do PSD na ilha, onde muitos esperavam uma mudança de atitude, as questões fundamentais permanecem sem resolução, como as do Porto e do Aeroporto da Horta, das estradas regionais, e a requalificação de espaços públicos e culturais, mas sobretudo a criação de condições favoráveis para que o setor privado possa investir nesta terra.
É tempo de repensar as prioridades, ouvir o apelo dos faialenses e assegurar que a ilha receba o tratamento e os investimentos que merece, porque o povo é sábio e não tem memória curta.