Nos últimos dias, fomos testemunhas de uma lamentável controvérsia pública desencadeada pela Presidente da APADIF, Leónia Melo, representante de uma importante IPSS da ilha do Faial e o Vice-Presidente do Governo dos Açores, Artur Lima. É chocante ver como acusações infundadas, falácias e joguinhos políticos facilmente ganham força na opinião pública quando amplificadas pelas redes sociais e até pela imprensa, sem o devido rigor jornalístico.
A primeira grande falha desta situação foi a cobertura parcial da RTP Açores, que veiculou as declarações da Presidente da APADIF sem ouvir ou dar a mínima oportunidade de defesa ao outro lado envolvido. O jornalismo tem uma responsabilidade social e ética: garantir que as suas notícias sejam imparciais e fundamentadas. No entanto, a comunicação social falhou em cumprir este dever ao negligenciar o direito ao contraditório. Este comportamento não só desinforma, como inflama a opinião pública e fragiliza a confiança no serviço público de informação, que deveria zelar pela neutralidade e pelo rigor.
Em segundo lugar, convém lembrar que o Vice-Presidente do Governo tem, no seu mandato, investido trabalho e recursos no apoio a diversas associações e instituições sociais, incluindo a própria APADIF. Ao longo dos anos, foram estabelecidos múltiplos contratos de cooperação, promovidas reuniões e criadas condições para que essa e outras entidades pudessem melhor servir a população. O Vice-Presidente, enquanto teve responsabilidades pela área social, ofereceu à APADIF uma solução de grande benefício à mesma: a utilização de uma parte do edifício público – o antigo Centro de Saúde – para centralizar as suas valências e respetivas atividades e, assim, reduzir custos e melhorar as condições de trabalho e atendimento. Esse esforço é um testemunho de compromisso com o bem-estar da comunidade e, mais ainda, de boa gestão e espírito de cooperação.
Ao invés de um agradecimento ou uma postura de diálogo, recebemos da APADIF um conjunto de declarações de teor alarmista, que colocam em causa a integridade de quem sempre trabalhou para apoiar a instituição. Este é um exemplo claro do que pode ocorrer quando, por razões pouco claras ou por incompreensões, se decide acusar e atacar sem qualquer fundamento. Tais declarações são ainda mais lamentáveis, porque em nenhum momento houve da parte da APADIF uma comunicação formal que abrisse espaço para o esclarecimento de dúvidas ou divergências. É incompreensível que se opte pelo confronto público em vez de se resolver internamente uma situação onde a disponibilidade do Governo sempre foi inequívoca.
É também necessário abordar o papel dos chamados "comentadores de Facebook” nesta situação. São aqueles que, das sombras do ecrã, sem conhecimento, sem factos e sem compromisso, não hesitam em lançar julgamentos infundados e em fomentar um clima de ódio e divisão. Estas são pessoas que se escondem atrás de um teclado, muitas vezes ignorando o velho ditado popular que nos ensina: "um burro calado passa por discreto". Infelizmente, hoje parece haver uma sede de julgamento contra os políticos, como se fossem os únicos responsáveis pelos problemas da sociedade. Esquecem-se estes críticos de que a responsabilidade pela construção de uma comunidade melhor recai sobre todos nós – desde os políticos, aos líderes de instituições, aos próprios cidadãos. E enquanto uns se desdobram em críticas vazias e ataques pessoais, outros dedicam-se ao trabalho diário, de modo sério e comprometido.
Se a sociedade exige tanto dos seus políticos - como bem deve exigir – é igualmente imperativo que se aplique esse mesmo rigor aos dirigentes das instituições e associações. Estes também têm um papel fundamental e são responsáveis por garantir que os interesses da comunidade prevalecem sobre interesses pessoais ou políticos. E, ao falharem em representar fielmente a verdade e em adotar uma conduta ética, essas figuras públicas contribuem negativamente para a construção de uma sociedade mais justa e coesa. Falta-lhes a moderação, a seriedade e a clareza de objetivos que deveriam nortear o trabalho de quem, como eles, também carrega a missão de servir o público.
Neste caso, a postura do Vice-Presidente ao vir a público esclarecer os factos e defender a sua integridade é mais do que justa. Afinal, o que está em causa não é apenas a sua honra, mas também o trabalho desenvolvido em prol dos açorianos, que não deve ser ofuscado por ataques infundados. Devemos, como sociedade, recusar-nos a aceitar declarações levianas ou acusações vazias como verdades absolutas. A verdade precisa de ser baseada em factos, e é essencial que todos nós – cidadãos, governantes e líderes de instituições – possamos distinguir o que é fundamentado do que é especulação.
Fica também uma palavra para a comunicação social: com grandes responsabilidades vêm grandes exigências. Se queremos que os políticos e dirigentes cumpram os seus deveres com seriedade, a imprensa também tem o dever de informar com precisão e imparcialidade. O episódio que envolveu a RTP Açores neste caso é um lembrete claro da necessidade de um jornalismo responsável, que promova a informação verdadeira e completa, ao invés de sensacionalismos. Claro que há jornalistas competentes e rigorosos, mas, infelizmente, aqueles que falham o seu dever parecem passar sem consequência. E o resultado é uma sociedade que, ao invés de se basear na verdade e no diálogo, se deixa manipular por uma visão incompleta e muitas vezes injusta da realidade.
Precisamos de respeito mútuo, seriedade, e um esforço coletivo para construir uma sociedade justa. Encontremos a verdade pelo caminho do discernimento, e o discernimento pelo caminho da verdade.