João Garcia

Faial a Menos

21 de Novembro de 2024


Rede Nacional de Centros Ciência Viva

O Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (CIVC) tornou-se membro associado da Rede de Centros Ciência Viva. Em condições normais, esta seria uma excelente notícia para os Açores e para a promoção da divulgação científica; contudo, o CIVC encontra-se atualmente abandonado, sem os investimentos prometidos e essenciais. Muitos dos seus equipamentos estão avariados ou obsoletos, faltam intervenções de manutenção no edifício, e o bar de apoio permanece encerrado desde o verão de 2023. O combate às espécies invasoras no Vulcão dos Capelinhos também foi interrompido, permitindo que as canas, a ipomeia e o chorão voltem a ganhar terreno, desperdiçando-se milhares de euros de investimento feito.

Assim, embora a integração na rede seja muito positiva, é urgente que o Governo Regional tome medidas para revitalizar este espaço e garantir que o espírito da Ciência Viva se concretize, tanto no centro como na sua zona de interpretação.

 Antigas Instalações

Os edifícios das antigas instalações do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP), o antigo Mercado do Peixe e as oficinas da Marinha encontram-se em completo abandono. Sem planos de requalificação definidos, esses edifícios deterioram-se dia após dia, compondo um cenário de desleixo urbano, algo que hoje tem-se tornado recorrente na nossa cidade.

Surge então a pergunta: a Câmara Municipal da Horta ou o Governo Regional já consideraram o destino para esses espaços? Existe algum plano – caso tenha sido elaborado – para reabilitar ou dar novos usos às antigas instalações do DOP e a outros edifícios da área? A necessidade de reflexão e decisão é urgente: esses imóveis serão demolidos, reabilitados ou transformados para novos fins?

A situação do Largo Manuel de Arriaga, ponto icônico da cidade e símbolo da memória de um dos mais ilustres faialenses, agrava ainda mais o quadro. Em vez de valorizar este espaço em torno da estátua de Manuel de Arriaga, a decisão de deslocá-la para a nova "joia da coroa" – a Frente de Mar – deixou o Largo exatamente da mesma forma, ou seja, desorganizado, desleixado, mas agora sem identidade. Esta área, marcada pelo abandono e pela falta de cuidado, passa a compor um retrato nada convidativo para uma cidade que aspira ser um destino marítimo de referência.

“Dupla Insularidade”

Um programa da Rádio Difusão Portuguesa (RDP) nos Açores, numa das suas emissões, chamou a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos Centros da RDP da Ilha Terceira e da ilha do Faial, onde as limitações são duplamente penalizadoras. Apesar da escassez de meios técnicos e de pessoal, estes centros conseguem, de forma quase milagrosa, continuar a prestar um serviço público essencial aos açorianos. Ocupam, de facto, um espaço de serviço público que as rádios locais não conseguem preencher, dando visibilidade a muitas realidades que se passam para lá de Lisboa e de Ponta Delgada.

Teme-se, no entanto, que as antigas tendências de congelamento do serviço público, patrocinadas pelo Governo da República, coloquem novamente em risco o pouco que ainda resta deste serviço fundamental, que, a par da RTP-Açores, são fundamentais para divulgação da açorianidade.

Neste contexto, fez muito bem o Governo Regional em reforçar e apoiar o Serviço Público de Rádio e Televisão nos Açores, pois é uma medida acertada e que defende a coesão territorial.

 Faial a Menos

O Plano e Orçamento para 2025 recebeu parecer favorável do Conselho de Ilha do Faial, uma decisão que, politicamente, não surpreende, mas que se revela prejudicial para os interesses da ilha. Em 2023, a taxa de execução financeira ficou pouco acima dos 35%, um valor que levanta sérias dúvidas sobre a concretização dos investimentos prometidos para 2025, os quase "100 milhões de euros" anunciados para o Faial. É crucial que se clarifique o montante efetivamente destinado ao Faial e se distingam os investimentos que, embora alocados à nossa ilha, servirão na prática todo o arquipélago e os montantes que irão ser efetivamente concretizados em ações específicas destinadas à melhoria das condições de vida dos faialenses e que tenham como objetivo alavancar a economia do Faial.

Obras prioritárias continuam a ser adiadas. Entre os exemplos mais flagrantes estão intervenções essenciais nas estradas regionais, como o troço Lombega/Horta, o Ramal da Caldeira e a Ribeira Funda. Infraestruturas vitais, como o reordenamento do Porto Comercial da Horta e o Parque de Invernagem, também permanecem sem financiamento. Projetos há muito aguardados, como a sede do Clube Naval da Horta, as Termas do Varadouro, a ampliação da Marina da Horta e a 2.ª fase da Escola Básica e Integrada da Horta, foram novamente adiados.

O património histórico e cultural do Faial enfrenta o mesmo desinvestimento gritante. Projetos como o Parque de Exposições na Quinta de São Lourenço, a Casa das Aves Marinhas no Morro de Castelo Branco e a requalificação do Farol da Ribeirinha, os Jardins de Arriaga ficaram por ser apoiados. Edifícios históricos, como o Castelo de São Sebastião, a Casa dos Pescadores, a sede das Guias de Portugal, a Igreja de São Francisco e os Moinhos, aguardam recuperação. Outros projetos prioritários, como o Porto de Pesca, ampliação do Museu da Horta, as melhorias em infraestruturas desportivas, como o Pavilhão do Fayal Sport Clube ou o campo do Atlético, nem sequer são contemplados.

O parecer favorável ao Plano e Orçamento para 2025 evidencia um preocupante desalinhamento com as reais necessidades do Faial. A persistente baixa execução financeira e a inscrição de empreitadas com valores absolutamente irrisórios, expedientes já criticados no passado, continuam a comprometer o desenvolvimento da ilha. É imperativo que os investimentos prometidos sejam concretizados, saindo finalmente do papel.

O Conselho de Ilha deve adotar uma postura mais crítica e independente, priorizando os interesses do Faial acima de quaisquer alinhamentos partidários. Assim deveria ter sido no passado, não pode deixar de ser no presente, nem no futuro. Apenas desta forma será possível garantir que as prioridades da ilha sejam efetivamente defendidas, promovendo os interesses dos faialenses e impulsionando o nosso desenvolvimento, frequentemente negligenciado pelos sucessivos governos.

Rede Nacional de Centros Ciência Viva

O Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (CIVC) tornou-se membro associado da Rede de Centros Ciência Viva. Em condições normais, esta seria uma excelente notícia para os Açores e para a promoção da divulgação científica; contud…





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