O desinvestimento no Porto da Horta tem sido crescente, acompanhado de um preocupante silêncio em torno dos estudos e soluções necessários para corrigir erros estruturais, como os associados ao Terminal Marítimo. Esta infraestrutura, em particular, continua a limitar negativamente o desenvolvimento da ilha. Além de estar fora da grande rota do turismo de cruzeiros, o Faial enfrenta as limitações da sua marina, que persistem como um obstáculo ao futuro económico local. É urgente coragem política para traçar uma estratégia de longo prazo, capaz de unir partidos e as forças vivas da ilha em torno de soluções que devolvam ao Faial a centralidade que perdeu para outros portos da região, alvos de investimentos avultados e livres de erros que condicionam a pensar apenas no imediato. Simultaneamente, é essencial refletir sobre como travar a perda populacional e revitalizar a economia local.
O Porto da Horta foi, no passado, o motor de desenvolvimento dos Açores; não é no presente, mas precisa de voltar a ser no futuro.
A “economia azul” é amplamente promovida como alavanca para o desenvolvimento sustentável de regiões costeiras, explorando os recursos marinhos de forma responsável e promovendo o crescimento económico. Nos Açores, a vasta Zona Económica Exclusiva (ZEE) poderia impulsionar uma economia diversificada e robusta. Contudo, a realidade está aquém desse potencial. Setores como a pesca e o turismo costeiro ainda dominam a economia azul na região, enquanto áreas como energias renováveis marinhas, biotecnologia marinha e aquicultura permanecem subdesenvolvidas. Além disso, as infraestruturas portuárias e os recursos para fiscalização dos mares são manifestamente insuficientes.
Neste contexto, o Porto da Horta deve ser reposicionado como centro estratégico das operações marítimas do arquipélago. A localização privilegiada da ilha oferece vantagens para o desenvolvimento de infraestruturas essenciais que promovam setores como o comércio internacional, pesca, aquicultura, energias renováveis marinhas, reparação e invernagem de embarcações. Apesar do papel internacional do Porto da Horta, reconhecido sobretudo no iatismo e no apoio à frota pesqueira, a falta de infraestruturas modernas e de grande escala limita o seu impacto. Assim, é imperativo definir um plano estratégico de médio e longo prazo para torná-lo num centro dinâmico da economia azul nos Açores.
Um dos principais investimentos necessários é a criação de um estaleiro naval de dimensão internacional no Porto da Horta. Este equipamento não apenas permitiria a manutenção de embarcações de pesca e recreio, mas também atenderia às indústrias emergentes, como as energias renováveis marinhas e a biotecnologia. Setores como a instalação de infraestruturas offshore ou o transporte de recursos marinhos — algas e peixes em sistemas de aquicultura — dependem de embarcações especializadas que requerem apoio logístico e técnico.
Além disso, a criação de um parque de invernagem de embarcações no Faial responderia à procura existente, promovendo o crescimento da indústria naval na região. Esta iniciativa reduziria custos operacionais para frotas locais e internacionais, geraria empregos e aumentaria as receitas económicas da ilha. Contudo, é necessário que tal infraestrutura seja concebida com a robustez e dimensão que um porto atlântico como o da Horta exige, e não como um mero capricho político.
A transição para fontes de energia renovável marinha, também representa uma oportunidade significativa para o Faial. A localização estratégica da ilha facilita o acesso a potenciais áreas de instalação de turbinas e outras infraestruturas marítimas. Para isso, é crucial que o Porto da Horta seja modernizado e ampliado, tornando-se apto a receber grandes embarcações e equipamentos especializados.
Na área da biotecnologia marinha, o Faial pode explorar a biodiversidade única dos Açores para desenvolver produtos inovadores com aplicações nas indústrias farmacêutica, cosmética e alimentar. No entanto, avanços nesta direção dependem de investimentos substanciais em infraestrutura laboratorial e de regulação favorável à inovação.
O desenvolvimento do Faial como centro da economia azul exige financiamento adequado e esforços colaborativos entre o governo regional, setor privado, instituições de ensino e comunidades locais. É necessário criar um ecossistema que facilite a inovação e atraia investimentos. Redes de colaboração entre setores público e privado são fundamentais para coordenar estratégias e viabilizar projetos.
A economia azul nos Açores tem o potencial de se tornar um motor de crescimento robusto, mas isso depende de um plano estratégico bem definido, focado na modernização e expansão do Porto da Horta. A localização privilegiada do Faial, combinada com investimentos em infraestrutura como um estaleiro naval internacional e um parque de invernagem, pode transformar a ilha num polo de inovação e desenvolvimento sustentável. Com coragem política e a união das forças locais, o Faial pode recuperar a sua centralidade e liderar a economia azul nos Açores.
E lembremo-nos: quando se trata do Faial, é tempo de pensar grande — porque o Atlântico não tem espaço para pequenez.