Glifosato - é prejudicial à saúde humana, contamina os solos e as linhas de água e ameaça gravemente a biodiversidade, incluindo os polinizadores essenciais. Estudos sugerem que este químico pode estar diretamente associado a doenças como o cancro, especialmente entre os aplicadores. O uso intensivo de glifosato leva ao desenvolvimento de resistência em ervas daninhas, exigindo doses cada vez maiores e perpetuando a dependência de químicos. Este modelo é insustentável, prejudica a saúde pública, sobrecarrega o sistema de saúde e degrada os ecossistemas.
Apesar destas evidências, a extrema-direita nos Açores, com o apoio do Grupo Parlamentar do PSD, CDS-PP e Representação Parlamentar do PPM, reintroduziu o uso de glifosato em espaços públicos, apresentando justificações descabidas e ignorando o princípio da precaução. O Parlamento Regional, ao optar por um populismo simplista, aprovou esta proposta, negligenciando o verdadeiro interesse público. Medidas como esta, cujo único objetivo é sustentar um governo, mostram que, para alguns, nem tudo vale; mas para outros, parece que sim.
Nãos - Enquanto na Assembleia da República e no Governo da República, sob a égide da Aliança Democrata, se repete a ladainha do "Não", nos Açores tudo parece já normalizado com o CHEGA. A coligação fez a sua escolha e, sem qualquer pudor, a influência da extrema-direita na governação é cada vez mais evidente. A Assembleia, por sua vez, parece uma grande festa da inclusão, onde até já se apresentam iniciativas legislativas conjuntas entre PSD, CDS e CHEGA.
No continente, "Não é Não"; mas nos Açores, a postura parece ser: "Venham os que querem dialogar", mesmo que isso implique dar espaço a ideologias extremistas que podem ser fatais para a nossa democracia e autonomia. Parece que, para alguns, o "Não" tem significados tão flexíveis quanto a conveniência dita. Agora, não restam dúvidas sobre com quem José Manuel Bolieiro escolheu alinhar-se. Certamente, os militantes do PSD Açores estarão satisfeitos. Não devia valer tudo em política, mas vale! Veremos no futuro as consequências deste caminho.
Inconstitucionalidade - No último plenário, ocorreu uma situação flagrante relacionada com a verificação de poderes do Diretor Clinico da Unidade de Saúde do Corvo e Delegado de Saúde daquela ilha, que se apresentou para substituir o deputado do Partido Popular Monárquico, ausente por motivos de saúde.
De acordo com o nosso Estatuto Político-Administrativo, um deputado não pode assumir funções parlamentares sem antes renunciar aos cargos de dirigente que ocupa. Não há qualquer dúvida jurídica quanto a isto. Assim, a validade de todos os diplomas aprovados com o voto do PPM no plenário de Dezembro pode ficar seriamente comprometida.
Foi criado um precedente preocupante numa questão que deveria ser absolutamente clara. É crucial esclarecer quem assumirá os custos associados aos dias em que o Dr. Paulo Margato desempenhou funções como deputado: será a Direção Regional da Saúde ou a Assembleia Legislativa Regional dos Açores? Além disso, importa apurar o custo do parecer externo solicitado pela comissão parlamentar competente, especialmente considerando que, em quase 50 anos de autonomia, nunca se registaram tão cristalinas.
Estatísticas - Vivemos tempos em que se fazem comparações estatísticas sem qualquer base de análise estruturada, ignorando os múltiplos fatores que influenciam os resultados. Por exemplo, comparar números de dormidas ou de passageiros desembarcados entre diferentes ilhas sem considerar variáveis essenciais é um erro.
Se uma ilha atingiu a sua capacidade máxima de alojamento, é evidente que não registará um crescimento significativo no número de dormidas. Por outro lado, uma ilha com resultados abaixo do esperado em anos anteriores pode apresentar um aumento, mas isso deve ser entendido como parte de uma recuperação, e não como um simples indicador de superioridade.
Afirmar que "o meu carro é melhor que o teu" com base em dados simplistas é absurdo. A validade estatística requer uma análise integrada e abrangente, considerando múltiplos fatores.
Outro exemplo: numa ilha onde o parque habitacional foi recentemente recuperado, é natural que haja menos pedidos de licenciamento para construção ou renovação. Já numa ilha com um parque habitacional mais degradado, é expectável um aumento nos licenciamentos. Para interpretar corretamente estas diferenças, é necessário cruzar os dados com variáveis como crescimento populacional, emissão de licenças comerciais ou investimento em infraestruturas.
Uma leitura fundamentada dos dados exige um olhar atento às especificidades de cada realidade. Sem isso, tiramos conclusões apressadas e enviesadas, que não contribuem para uma verdadeira compreensão da situação.
União - Há duas comunidades nos Açores que partilham uma relação única, talvez sem paralelo em Portugal e na Europa. Separadas por apenas cinco milhas náuticas, as tradições do Pico e do Faial entrelaçam-se, criando laços familiares e culturais profundos, que tornam quase impossível distingui-las.
Esta proximidade, cultivada ao longo de gerações, gerou uma interdependência económica e social que vai muito além da geografia. As duas ilhas complementam-se em áreas como comércio, serviços, cultura e turismo.
Apesar da sazonalidade turística no inverno, cada vez mais pessoas atravessam o canal para desfrutar das belezas naturais, gastronomia e hospitalidade únicas de ambos os lados. Este movimento fortalece as economias locais e reforça os laços comunitários.
Infelizmente, há quem tente fomentar rivalidades artificiais entre estas comunidades, utilizando argumentos infantis que não resistem à realidade. Estas divisões fabricadas por uma minoria não têm força para desfazer o que a natureza uniu. A complementaridade que une estas comunidades é o que as faz prosperar – no passado, no presente e, certamente, no futuro.
Concluído, estes pequenos textos convergem para uma questão essencial: não podemos mudar, dividir ou fazer interpretações levianas, pois, felizmente, na vida não vale tudo.