O Natal transcende a simples marcação de uma data no calendário. É um símbolo de renovação, uma chama que resiste às tempestades mais sombrias e um apelo universal à esperança. Num mundo onde a nossa liberdade é cada vez mais posta em causa, celebrar o Natal deveria ser um grito de afirmação daquilo que nos torna humanos: o amor, a empatia e a resiliência.
Enquanto muitos enfeitam as suas casas e trocam presentes, há lugares no mundo onde esta luz quase não consegue brilhar. Na Palestina, onde cada pedra carrega séculos de história, o Natal deveria simbolizar união, mas a realidade de um conflito interminável silencia os cânticos de harmonia. Na Ucrânia, o céu, que deveria ser iluminado por estrelas, é rasgado por explosões, e as famílias, divididas pela guerra, vivem entre a saudade e o desespero. No Sudão, a luta pela dignidade e pela sobrevivência suplanta qualquer possibilidade de celebração. No Iémen, onde o choro das crianças famintas ecoa mais alto do que qualquer melodia, e no Afeganistão, onde a incerteza sobre o amanhã paira como uma sombra constante.
O que é a paz, senão um direito de todos? Como podemos aceitá-la como privilégio de uns enquanto é negada a outros? Não podemos continuar a fechar os olhos ao sofrimento selectivo. Condenamos uns, sancionamos outros, mas permitimos que muitos perpetuem injustiças sem qualquer consequência. Este paradoxo é insustentável. Como podemos celebrar o amor num mundo que insiste em valorizar umas vidas mais do que outras?
O Natal deveria ultrapassar fronteiras, ideologias e divisões. O seu verdadeiro significado não conhece mapas nem limites. É um chamamento ao coração humano, recordando-nos de que a solidariedade é o mais puro reflexo do espírito natalício. Mesmo onde a esperança parece distante, precisamos de acreditar que a luz do Natal pode chegar. Que esta luz atravesse muros, derrube barreiras e alcance os lugares esquecidos. Que brilhe nos campos de refugiados, ilumine os abrigos da guerra e inspire aqueles que perderam tudo, até mesmo a fé.
No Haiti, na Síria, na Etiópia, e em tantos outros cantos do mundo, o sofrimento ofusca o brilho da vida. Mas o Natal é a promessa de que a escuridão nunca será eterna. Que sejamos nós a levar essa promessa adiante. Não apenas com palavras, mas com gestos concretos. Que sejamos a mão que ampara, o sorriso que acolhe, o sustento para os recomeços.
Que este Natal não seja apenas sobre nós, mas sobre todos. Que seja um compromisso de reconstruir, de acreditar que a paz é possível e que a justiça não deve ter excepções. Só quando a luz do Natal alcançar cada coração humano, em qualquer lugar, poderemos dizer que o nosso Natal está completo.
Desejo a todos um Natal iluminado pela liberdade, pela solidariedade e pela coragem de nunca deixar ninguém para trás. Que esta seja uma celebração de vida, esperança e humanidade.