O Solar dos Arriaga, situado no centro da cidade da Horta, foi uma residência nobre de relevante importância histórica. Esta casa, pertencente a uma família aristocrática influente, desempenhou um papel significativo na formação de Manuel de Arriaga. O ambiente cultural do Solar, marcado por encontros dedicados à arte, música e literatura, influenciou a sua obra poética e o sentimento de saudade pela casa onde nasceu, bem como a sua forte ligação à natureza.

A propriedade, com sua quinta e jardins, era motivo de grande orgulho para a família Arriaga e uma atração turística para os estrangeiros que passavam pelo Faial. Alice Moderno, em suas memórias, destaca o "castanheiro das senhoras Arriaga", uma árvore com mais de 200 anos, como uma das maravilhas da Horta. “O valor patrimonial do Solar é notável, refletindo a simbiose entre a natureza e a cultura que ali floresceu.”

A reabilitação da Casa dos Arriaga, iniciada em 2011, não incluiu a área da antiga quinta, que abrigava jardins, pomares e outros elementos arquitetónicos característicos de uma quinta urbana do século XVIII-XIX. Esta zona é fundamental, pois foi ali que Manuel de Arriaga passou a sua juventude, influenciando o seu carácter romântico. A Casa, descrita no "Livro de todos os bens da casa Arriaga Brum da Silveira" (1854), possuía jardins, cisterna, poço de maré e outras dependências. Algumas dessas características, como as árvores e os pomares, são mencionadas na sua poesia.

O projeto de reabilitação da Quinta da Casa Manuel de Arriaga, de acordo com a arquiteta Cláudia Ávila Gomes, visava restaurar a unidade da quinta urbana, mantendo os pomares, jardins e a cisterna. A intervenção incluia a criação de zonas de recreio, como um campo de croquet, e a implementação de novos espaços de lazer. Seria também criado o "Passeio Republicano", que ligaria a Casa Manuel de Arriaga à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

No entanto, nove meses antes das eleições autárquicas, a Câmara Municipal da Horta anuncia a criação de um novo “parque de estacionamento provisório” no local onde estava prevista a reabilitação dos Jardins da Casa Manuel de Arriaga. Este projeto, que já foi prometido há anos, continua a ser adiado. O anterior executivo municipal socialista nunca concordou com a proposta de reabilitação dos Jardins. O Governo Regional da altura, convenientemente, também não avançou com o projeto, o que resultou no seu arquivamento.

Finalmente, em setembro de 2021, assistimos ao tão esperado impulso para este projeto, com a presença do Presidente da Assembleia Legislativa, Luís Garcia, e do Presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, na Casa Manuel de Arriaga. Na ocasião, foi apresentado o projeto e, de forma simbólica, plantada uma árvore de folha de âmbar (Liquidambar styraciflua), evocando a Primeira República e a ligação da família Arriaga à América. Assim, concretizou-se o arranque de um sonho antigo, há muito adiado, enchendo de satisfação todos os que ansiavam por este momento.

Recentemente, o executivo municipal da coligação PSD/CDS solicitou ao Governo autorização para a construção um “parque de estacionamento provisório” no local onde deveriam estar os Jardins. A Direção Regional da Cultura aceitou rapidamente a proposta, arquivando o plano anterior, o que foi conveniente para todos os envolvidos. O Plano Regional para 2025 não prevê qualquer verba para os jardins, o que tenta evitar a possibilidade de considerá-los como uma promessa falhada.

O ato público de 2021, carregado de simbolismo, revelou-se mais uma ilusão do que um sinal de mudança. Embora tenha dado a impressão de uma nova postura, a realidade mostra que as práticas permanecem as mesmas na ilha do Faial, sem que a tão esperada renovação tenha sido concretizada.

O problema do estacionamento na cidade da Horta continua sem solução definitiva. Quem não se lembra do Parque de Estacionamento Provisório da Avenida ou das várias bolsas provisórias de brita criadas ao longo dos anos? Estas soluções temporárias não resolvem o problema de forma eficaz.

Na última Assembleia Municipal, a proposta para mais um “parque de estacionamento provisório” foi amplamente aceite, seguindo o consenso em torno da "Frente de Mar". Curiosamente, tanto o PSD quanto o PS parecem concordar em algo: os Jardins da Casa Manuel de Arriaga não são uma prioridade.

Enquanto isso, o debate sobre o problema real do estacionamento continua a ser evitado. Alguns preferem ignorá-lo devido a erros passados, enquanto outros não apresentam qualquer plano claro para resolver este desafio.

Além disso, é crucial reconhecer a importância de preservar as áreas nobres da cidade, evitando transformá-las em espaços degradados que descaracterizam a Horta. A repetida utilização de zonas emblemáticas para soluções provisórias dá à cidade uma imagem de estaleiro de obras inacabadas, prejudicando a estética urbana, o turismo e a qualidade de vida dos faialenses. Uma cidade deve cuidar dos seus espaços mais simbólicos, em vez de sacrificá-los para resolver problemas estruturais mal resolvidos.