Até quando o discurso político continuará refém da velha lenga-lenga da culpa, onde se culpa o passado e se exalta o presente? A coligação PSD/CDS/PPM é um exemplo de como essa abordagem fragiliza o debate político e aliena a sociedade.
É comum atribuir insucessos à gestão anterior, rotulando-a de “herança pesada”. Ao mesmo tempo, resultados positivos são proclamados como mérito exclusivo do governo atual, ignorando que o presente é construído com bases lançadas no passado. Essa narrativa binária — o passado sempre errado, o presente sempre certo — simplifica a gestão pública e desrespeita a inteligência dos cidadãos, que reconhecem que as obras do passado foram fruto de decisões e desafios legítimos à época.
Essa postura reduz a credibilidade das políticas e impede avanços. Obras que antes eram consideradas “insignificantes” tornam-se “maiores”, e erros de outrora são hoje tratados como sucessos. Tal retórica reflete uma falta de coragem para assumir responsabilidades e valorizar o mérito alheio.
Os Açores precisam de uma política focada no futuro, capaz de reconhecer erros e agir com transparência. Apenas com responsabilidade e resultados tangíveis será possível superar discursos vazios e fortalecer a confiança da população.
Narrativa do Medo
Nos últimos tempos, temos assistido a um preocupante avanço de discursos que alimentam o medo e a desinformação. A extrema-direita, acompanhada por setores da direita que se autodenominam moderados, tem promovido uma narrativa que relaciona a imigração ao aumento da insegurança, criando a falsa perceção de que a população está em conflito com as forças policiais e de que vivemos num clima de perigo crescente. Esta estratégia, desenhada para semear medo, visa não apenas desviar a atenção dos verdadeiros problemas sociais e económicos, mas também fomentar divisões ideológicas, tudo com o objetivo de ganhar votos e capitalizar politicamente à custa da fragmentação social.
No entanto, este fenómeno não ocorre isoladamente. Na passagem dos 80 anos do Memorial do Holocausto em Auschwitz, assistimos a um inquietante regresso de velhas sombras: o populismo, a demagogia, a negação histórica, o extremismo, o racismo, a discriminação de mulheres, a fragilidade de lideranças e o enfraquecimento da separação de poderes. Esses sinais de retrocesso civilizacional mostram que a democracia, com todos os seus defeitos, nunca pode ser tomada como garantida.
Cabe-nos, enquanto sociedade, “combater” em defesa da democracia, enfrentando as narrativas do medo com informação, empatia e ações concretas que reforcem os valores da liberdade e igualdade. Não basta denunciar, é preciso agir para proteger os alicerces democráticos e garantir que as lições do passado não sejam esquecidas.
A Norma
Desapareceu do Orçamento de Estado o famoso parágrafo referente à ampliação da pista do Aeroporto da Horta. Enquanto estava presente, sentíamo-nos mais tranquilos. Agora que saiu, a razão continua por explicar. Será algo benigno ou maligno? Não sei, e nem é isso que me move. O que sei é que o Governo da República, liderado pelo Partido Socialista, já tinha garantido o financiamento do projeto, pois tal estava estipulado.
Na Assembleia Municipal, todos os partidos estiveram à altura, aprovando por unanimidade um voto de protesto. Contudo, na Assembleia Regional, PSD, CDS e PPM decidiram chumbar um voto de protesto semelhante. Para quem tanto evoca o passado, este tipo de repetição não é, de todo, politicamente aceitável.
Culpadas
Na cidade da Horta, as calçadas são frequentemente transformadas em bodes expiatórios para os problemas urbanos.
O exemplo mais recente, a estrada da Vista Alegre, ilustra bem o quão simplista é esta visão. Contudo, a realidade é bem diferente.
A Calçada da Boa Vista, da Conceição, a Rua do Sporting, a Rua de Jesus e tantas outras têm resistido ao tempo, mesmo enfrentando problemas estruturais e sistemas de drenagem deficientes nas áreas mais altas. A culpa não é das calçadas centenárias, este símbolo da identidade local que, noutras regiões, é admirado e até preservado como potencial Património da Humanidade. Aqui, pelo contrário, é injustamente desvalorizado.
A verdadeira raiz do problema está nas obras que ignoram a orografia e a hidrologia do território. Intervenções mal planeadas, mal feitas e com falta de manutenção. É lamentável constatar que a solução requer coragem e determinação para enfrentar questões estruturais mais profundas. Mas, em vez disso, desvia-se o foco para um alvo fácil, sacrificando mais uma vez o nosso património.
À Chuva
O trânsito na Rua Cônsul Dabney é um caos, especialmente nos horários de entrada e saída da EB/JI António José de Ávila e durante a hora do almoço. As crianças ficam expostas à chuva, os autocarros não têm onde estacionar e a via carece de segurança adequada. Esta área inclui um infantário, acesso principal a dois hotéis, várias Secretarias Regionais, uma zona residencial e um dos maiores empregadores da ilha, a Santa Casa da Misericórdia.
É urgente repensar toda esta zona, em colaboração com o Governo Regional. São necessárias soluções eficazes para estacionamento, gestão de trânsito e maior segurança, de modo a minimizar os problemas resultantes da localização inadequada da escola.
Semana Desportiva e Cultural
Mais um ano, mais uma edição deste evento que anima as nossas freguesias durante as noites de inverno. Agora denominado “1 ilha, 13 freguesias”, este projeto começou há mais de três décadas, com o impulso do INATEL, através do Professor João Castro e a sua equipa. Foi uma iniciativa inovadora na altura, que, nos Açores, conseguiu preservar os jogos tradicionais, passando-os de geração em geração. Sem este esforço, muitos desses jogos teriam provavelmente desaparecido.
A Câmara Municipal, as Juntas de Freguesia e as Casas do Povo juntaram-se a este projeto, criando sinergias essenciais para dinamizar o desporto e a cultura na nossa ilha.
Contudo, existe uma oportunidade de melhoria: integrar alunos das áreas da comunicação para cobrirem os eventos e darem maior visibilidade às atividades realizadas.