As Áreas Marinhas Protegidas nos Açores foram anunciadas como a joia da coroa internacionalmente, destacando que 30% do nosso mar está protegido. No entanto, a realidade no terreno é bem diferente. A fiscalização é insuficiente e mal distribuída, recaindo quase exclusivamente sobre a pesca local, enquanto os grandes infratores continuam a operar impunemente. Pescadores locais denunciam a crescente e frequente presença de palangreiros a pescar ilegalmente dentro das seis milhas da costa, violando regulamentos sem receio de consequências. Dizer que se protege sem garantir meios adequados de fiscalização traduz-se, na prática, em nada.
Além disso, todo o setor das pescas continua ao abandono, sem rumo nem uma estratégia clara para garantir a sustentabilidade dos recursos e o futuro das comunidades piscatórias. Os apoios são escassos, a burocracia sufoca quem trabalha no mar e as decisões políticas parecem sempre favorecer interesses distantes da realidade local. Enquanto se anuncia proteção, o que se vê é uma economia piscatória fragilizada, com cada vez mais dificuldades para quem vive da pesca. Sem fiscalização eficaz, investimento adequado e políticas justas, a suposta proteção do mar dos Açores não passa de palavras vazias.
Os Semáforos
Numa cidade onde há apenas um cruzamento com semáforos, seria de esperar que a sua gestão não fosse um tema político. Mas, claro, subestimámos a capacidade dos nossos representantes para transformar até lâmpadas intermitentes num campo de batalha ideológico.
Alguns dos atuais responsáveis da CMH, quando ainda estavam na oposição, faziam grandes discursos sobre a inaceitável demora na reparação dos semáforos. Indignados, ergueram a bandeira da revolução luminosa! Agora, já no poder, passaram-se nove meses e… surpresa! Os semáforos continuaram a ser um problema. A oposição, que outrora se via no espelho, aponta o dedo e grita "escândalo!"
Mas eis que surge o milagre! A Câmara compra um novo equipamento e emite uma longa nota de imprensa para anunciar, com pompa e circunstância, que os semáforos voltaram a funcionar. Foguetes! Desfiles! Medalhas de honra ao mérito! Mas nem tudo é felicidade nesta terra iluminada, porque há quem não goste das novas funcionalidades dos semáforos.
Os defensores do executivo municipal lançam o velho e fiável argumento: "Os faialenses nunca estão satisfeitos com nada!" Do outro lado, a oposição recita, como um mantra, os mesmos argumentos de outrora. E assim se cumpre a tradição política local: mudar de lugar, mas não de discurso.
Entretanto, discutir o essencial – uma solução eficaz e duradoura para o trânsito naquela via – parece estar fora de questão. Talvez porque pensar no futuro dá trabalho. Talvez porque estratégia é uma palavra demasiado longa. Ou talvez porque, afinal, este cruzamento é apenas o espelho perfeito da cidade: parado no tempo, a piscar intermitente entre promessas e desculpas.
Amianto
No Faial, muitas das escolas foram encerradas, umas foram abandonadas ou entregues a instituições, mas um problema grave persiste: a remoção dos telhados de amianto. O próprio argumento que levou ao encerramento de algumas destas escolas parece ter sido esquecido, já que, passado todo este tempo, os telhados continuam no mesmo estado, representando um risco para a saúde pública.
Um caso flagrante é o da antiga Escola Primária (P3) junto à antiga Estação Rádio Naval, encerrada sob o pretexto da presença de amianto. No entanto, apesar de agora albergar várias instituições, a cobertura continua por remover. Esta contradição expõe a inércia das entidades responsáveis, que utilizaram a segurança como justificação para fechar escolas, mas ao entregarem a outras organizações não encontram soluções eficazes para resolver o problema.
O amianto é um material altamente perigoso, cuja degradação ao longo do tempo liberta fibras cancerígenas para o ar, colocando em risco a saúde de quem frequenta estes espaços. Enquanto noutras regiões há planos concretos para a remoção deste material, no Faial a situação arrasta-se sem resposta, deixando edifícios ao abandono ou ocupados sem a devida requalificação.
A falta de ação neste caso não é apenas um problema ambiental ou de saúde pública, mas um reflexo da ausência de planeamento e compromisso das autoridades.
Ameaças
Os Açores, sendo um pequeno arquipélago no meio do Atlântico, enfrentam desafios constantes na preservação do seu ecossistema. As espécies invasoras continuam a ser uma ameaça séria, podendo comprometer a biodiversidade local e provocar desequilíbrios difíceis de reverter. Mas que medidas estão realmente a ser implementadas para impedir a entrada de novas espécies e controlar as que já chegaram?
A recente deteção da vespa asiática (Vespa velutina) em São Miguel é um exemplo preocupante de como a falta de ação atempada pode transformar a prevenção em combate. Além de representar um perigo para as abelhas autóctones, essenciais para a polinização e produção de mel, esta espécie é também um problema de saúde pública, já que as suas picadas podem ser perigosas, sobretudo para pessoas alérgicas.
Também no meio marinho, a presença da alga japonesa (Undaria pinnatifida) já afeta o ecossistema, enquanto doenças como a Varroa destructor ameaçam as colmeias e a agricultura. Que medidas concretas estão em curso para monitorizar e conter estas ameaças? A identificação do vírus da dengue em mosquitos na passada semana na Região Autónoma da Madeira reforça a necessidade de um controlo rigoroso de agentes biológicos invasores.
Sem uma aposta séria em campanhas de sensibilização e numa monitorização eficaz, será apenas uma questão de tempo até que novas ameaças ultrapassem o ponto de prevenção e exijam esforços de combate muito mais exigentes. Estaremos a agir a tempo ou a repetir erros do passado?
A implementação de medidas eficazes de controlo e prevenção depende não só das autoridades, mas também da colaboração da sociedade. Sem uma estratégia clara e sem uma cultura de vigilância e responsabilização, os Açores podem enfrentar danos irreversíveis na sua fauna, flora e economia. A proteção do arquipélago deve ser uma prioridade coletiva, pois a preservação do seu equilíbrio ecológico é essencial para garantir um futuro sustentável.