Os enfermeiros maqueiros confirmaram o óbito e transportaram o cadáver para a “urgência”.
O guarda da PSP, perguntou-lhe se haveria parentes com quem comunicar, a que ele respondeu: - Ele tem um filho de maior idade que vive no Continente na companhia da mãe, a quem ele iria telefonar se conseguisse o respectivo número. Quanto à irmã e cunhado, preferia que fossem as autoridades a dar a notícia, pois sabia que há já alguns anos não se relacionavam e ademais o casal estava num processo de divórcio.
O guarda da PSP pediu-lhe a identificação que entregaria à PJ, pois, de momento, era a única pessoa capaz de fornecer alguns esclarecimentos. Ele prontificou-se a colaborar e acrescentou que iria tratar do cão, que entretanto fechara no canil e procurar o número de telefone do filho para o contactar. Ademais não pretendia abandonar a casa.
Foi tratar do cão o que não constituiu qualquer dificuldade, pois várias vezes vira o vizinho fazê-lo. Ainda pensou procurar o número do telefone do filho da vítima, mas isso implicava atravessar o corredor e receou destruir qualquer prova do crime, pelo que entendeu aguardar pela Polícia Judiciária.
A PJ chegou já perto do meio dia. Agradeceram-lhe o facto de ter esperado e justificaram a demora com a necessidade de acompanharem o médico-legista à morgue. Como estava sobre a hora de almoço, sugeriram-lhe que fosse almoçar, pois iriam ocupá-lo algum tempo durante a tarde, já que, como ouvira da PSP, ele era a única pessoa capaz de prestar, no imediato, alguma colaboração.
Ele disse preferir antes procurar o numero de telemóvel do filho, mas isso implicava atravessar a cena do crime e receava destruir algo que prejudicasse a investigação.
Entraram os três na residência – o inspector vinha acompanhado de um adjunto – e ele dirigiu-se ao pequeno escritório do amigo onde encontrou a agenda da qual constava o número de telemóvel do filho da vítima.
Ele sugeriu que fosse um dos elementos da PJ a telefonar, pois ele nunca contactara com o filho.
O telefonema do inspector da PJ com o filho decorreu, sem grande dramatismo, pois o relacionamento com o pai era muito frio. Desde os primeiros desentendimentos do casal, o filho colocou-se sempre ao lado da mãe, muito mais tolerante com alguns dos seus desacatos. Limitou-se a dizer que iria seguir no avião mais próximo e, mesmo sem um simples agradecimento, desligou.
Após o almoço, reuniram em casa da vítima e ele relatou tudo quanto julgou útil à investigação. Que na véspera tinham assistido a uma transmissão futebolística – o que acontecia com frequência – despediu-se cerca das dez horas, não tendo notado nada de estranho. Acrescentou que uma noite, ele recebeu um telefonema da irmã, com quem não se relacionava há muitos anos e que, a partir daí, lhe notou um ar preocupado. Mas, nada sabia acerca do telefonema.
O inspector e o adjunto demoraram cerca de uma hora observando com minúcia a cena do crime. Havia uma poça de sangue e uma jarra caída no chão que teria sido a arma do crime.
De seguida o inspector pediu-lhe que o acompanhasse a casa da irmã da vítima assegurando-lhe que não teria qualquer interferência, enquanto o adjunto se encarregaria de fechar a casa para o que se serviu da chave que encontraram sobre a pequena mesa da sala.