Pararam a algumas dezenas de metros da residência. O inspector dirigiu-se à casa que ele indicou, tocou a campainha e apareceu-lhe uma mulher com uma idade que situou entre os 55/60 anos. Identificou-se e, ao contrário do que acontece nestas circunstâncias, foi com a maior tranquilidade que a mulher o convidou a entrar e indagou da razão da sua presença. Perante esta atitude, julgou dispensável quaisquer preâmbulos preparatórios, e foi direito ao assunto:
- Estou aqui para a informar que seu irmão foi assassinado.
Foi ainda com a mesma estranha tranquilidade que ela afirmou:
- Então ele não levou a sério o aviso que lhe transmiti!
- Que aviso, perguntou o inspector?
Ela então, ajeitando-se no sofá, começou: há coisa de oito dias recebi um telefonema anónimo de alguém que disse estar falando de uma cabine telefónica e afirmou ter surpreendido meu marido contratando alguém para matar meu irmão.
- Que razão teria o seu marido para o fazer? – perguntou o inspector.
- Ele acusa meu irmão dos motivos do nosso divórcio que está prestes a concretizar-se! E muito recentemente tiveram uma desavença num restaurante que só a intervenção de terceiros impediu que chegassem a vias de facto. Mas ficaram no ar ameaças recíprocas.
- A que horas chegou o seu marido a casa, ontem? Pode precisar?
- À hora mais ou menos habitual, pouco passando da meia-noite.
-Sinceramente, minha senhora, considera o seu marido capaz de tal monstruosidade?
- Sinceramente, já não sei o que pensar.
Despediu-se, avisando que seria novamente contactada e provavelmente teria de ser ouvida pelo Procurador-adjunto do Ministério Público.
Acompanhou-o à porta e perguntou quando poderia ver o irmão e se já tinham avisado o filho?
De momento não é possível, nem aconselhável. Mas o seu sobrinho deve chegar amanhã e então combinam.
Voltaram à cena do crime. O adjunto já tinha terminado a sua tarefa e disse nada ter encontrado que pudesse acrescentar algo ao que já tinham visto na primeira busca. Despediram-se dele, renovando os agradecimentos pela cooperação e advertindo que o Procurador-adjunto com quem iam contactar de seguida talvez solicitasse a sua presença. Ele manifestou toda a disponibilidade, pois ansiava ver detrás das grades o autor de tamanha barbárie.
O Inspector foi recebido pelo Procurador-Adjunto do Ministério Público a quem deu notícia do crime e das diligências entretanto realizadas, e avançou que, embora sem grande consistência, tudo indicava que o principal suspeito da autoria senão material pelo menos moral do crime seria o cunhado da vítima, cujo depoimento seria das primeiras coisas a obter, o que mereceu a concordância do Procurador. Passou pelo seu gabinete e avisou que iria falar com o cunhado da vítima que, aliás, conhecia como proprietário de uma boutique de pronto-a-vestir.
Porém, a caminho pensou que uma visita ao restaurante onde se passara a escaramuça entre a vítima e o cunhado para obter o relato do que se passara, talvez lhe propiciasse um interrogatório mais esclarecedor. E dirigiu-se ao restaurante.
Foi atendido pelo gerente perante quem se identificou e disse a que vinha. O gerente convidou-o para o seu gabinete, onde estariam mais à vontade. Começou por contar que a vítima estava almoçando só, como habitualmente. O cunhado entrou na companhia de parte dos seus companheiro/as de almoço e começou por dirigir algumas indirectas ao cunhado a que este respondeu. O problema só não resultou em vias de facto porque os companheiros do cunhado o sustiveram. Não conseguiram foi evitar os insultos e ameaças recíprocas. Foi notório o ódio que prevalecia entre os dois. A vítima entretanto, acabado o almoço, saiu e tudo serenou.
- Em que dia isso aconteceu? - perguntou o inspector .
- Na passada segunda feira ou seja há três dias. Agradeceu e saiu.