HUB no Hospital de Ponta Delgada – Alerta ou prenúncio de mais uma centralização?
Já aqui tinha escrito que o incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada (HDES) era uma oportunidade para descentralizar os serviços de saúde nos Açores, reforçando os hospitais de Angra e da Horta. Dessa forma, em situações idênticas – como incêndios, sismos ou desastres de maior dimensão – a Região Autónoma dos Açores poderia contar com três unidades hospitalares complementares, garantindo uma resposta mais eficaz e equitativa.
Agora, os alertas vêm de vários quadrantes políticos, e a sociedade civil mostra-se preocupada, pois o Governo Regional parece estar a seguir um caminho contrário: em vez de apostar na descentralização, prepara-se para reforçar ainda mais o HDES. Esta decisão levanta sérias dúvidas sobre o futuro da rede hospitalar açoriana, alimentando receios de um esvaziamento progressivo das unidades de Angra e da Horta.
Como se demonstrou no incêndio, o HDES não pode concentrar todas as especialidades. O que deveria ter sido feito há muito tempo era a descentralização, assegurando que, em momentos críticos, a resposta hospitalar não dependesse exclusivamente de Ponta Delgada. A complementaridade entre os três hospitais da Região deveria ser a prioridade, permitindo um melhor equilíbrio na prestação de cuidados de saúde e evitando a sobrecarga de apenas uma unidade.
Não há fumo sem fogo, e os presidentes de câmara fazem muito bem em questionar o Presidente do Governo. As evidências da desvalorização dos hospitais de Angra e da Horta são claras e, se não houver uma mudança de rumo, o futuro da saúde nos Açores poderá ficar ainda mais desequilibrado. A questão que se impõe agora é se o Governo Regional está disposto a ouvir estas preocupações ou se seguirá, indiferente, pelo caminho da centralização.
Conferência
A cidade de Ponta Delgada será palco da 36.ª edição da Conferência Anual Internacional da European Cetacean Society (ECS), que decorrerá de 12 a 18 de maio de 2025. O evento prevê a participação de cerca de 600 pessoas, incluindo investigadores, estudantes e especialistas na área dos cetáceos, promovendo a partilha de conhecimento e a divulgação das mais recentes descobertas científicas sobre mamíferos marinhos.
Apesar da importância deste evento para os Açores, levanta-se a questão da descentralização das grandes conferências no arquipélago. As ilhas de São Miguel e Terceira têm sido os locais privilegiados para a realização deste tipo de encontros, em detrimento das restantes ilhas.
O Faial, com uma reconhecida relevância científica nesta área, sede do Departamento de Oceanografia e Pescas dos Açores e a apregoada “Cidade do Mar”, não poderia ter recebido este evento em conjunto com a ilha do Pico? Argumenta-se frequentemente que a falta de infraestruturas impede a realização de eventos de grande dimensão, mas essa realidade reflete apenas uma escolha estratégica: sem investimento, as condições necessárias nunca serão criadas.
A descentralização desses eventos promove um desenvolvimento mais equilibrado entre as ilhas, atenua a forte sazonalidade nas ilhas mais esquecidas do arquipélago e reforça o papel da ilha do Faial como a mais relevante na observação e estudo dos cetáceos.
Mas continuamos na mesma, com as velhas e gastas desculpas esfarrapadas.
Partidarite Aguda: O Maior Obstáculo ao Progresso
No Faial, há uma tendência para reescrever a história conforme interesses próprios. A ilha beneficiou, durante os governos do Partido Socialista, de projetos importantes e fundamentais, como a ampliação do hospital, a construção de um novo centro de saúde, novas escolas, a recuperação do parque habitacional e das igrejas após o sismo de 1998, além de novas infraestruturas e investimentos culturais. No entanto, também sofreu retrocessos, como a perda de serviços essenciais e obras mal planeadas, como o cais norte do Porto da Horta.
O maior problema não é a falta de investimento ou a baixa execução dos projetos, mas sim a “partidarite aguda”, que impede o reconhecimento de méritos fora das ideologias. Esse mal afeta a política, o desporto e a cultura, tornando o debate irracional e prejudicando o progresso coletivo.
A solução passa pelo pensamento crítico e pela humildade intelectual. É preciso valorizar boas ideias, independentemente de quem as propõe. Só assim será possível ultrapassar divisões estéreis e garantir um futuro melhor para o Faial.
Afinal, o dinheiro investido não pertence a nenhum governante ou partido — pertence a todos nós. E a única obrigação dos responsáveis políticos é cumprir o que prometem e explicar quando tal não é possível de concretizar.
A Arte de Tirar Para Dar o Mesmo
A SATA, sempre inovadora na arte de gerir as expectativas dos faialenses (e as desilusões), volta a surpreender! Desta vez, com a sua nova campanha: “Damos o que já era vosso e ainda vos cobramos o mesmo!”
O enquadramento é simples:
Retirar um voo nos meses de julho e agosto.
Alegar com grande solenidade: “Não há “slots” (Horário disponível) no aeroporto de Lisboa!” (tradução: “A culpa não é nossa!”).
Duas semanas depois, como que por milagre: “Encontrámos um slot!” (tradução: “Agora fiquem agradecidos!”).
Conclusão: Ficamos na mesma, enquanto alguns aplaudem a proeza.
Entretanto, nos outros destinos açorianos, o Governo investe milhares de euros em promoção turística. Mas para a Horta? Ah, não seja por isso! Aqui, os viajantes já estão tão habituados ao jogo do “tira, perde, dá e cobra” que nem precisam de incentivos.
O grande mistério continua: a autorização de horário (Slot) não existia e agora existe – o que mudou? Terá sido o alinhamento político que retirou os 14 voos semanais da Horta? Um desbloqueio à medida? Ou apenas mais uma manobra do Grupo SATA para nos entreter?
Uma coisa é certa: na SATA, os voos vão e vêm, mas a falta de consideração pelos faialenses mantém-se. Há quem ainda não tenha percebido que o Governo mudou, mas a situação continua igual.
Curiosamente, alguns faialenses que antes protestavam agora defendem estas decisões. Relembram quem retirou os 14 voos, mas esquecem a promessa de reposição. Não fazem mais do que tapar o sol com uma peneira. Dizem que dez é melhor que nove, mas ignoram que estamos em 2025 e que o Governo já mudou.
Como diziam os antigos, infelizmente, “vão ter de morder a língua até doer”, porque continuamos na mesma.