Inspector-chefe e adjunto conversam um pouco no gabinete do primeiro.
- Chefe! Há alguns dias que lhe noto preocupação. Será problema que possa desabafar comigo?
Posso! Até porque também te diz respeito! Estou possuído da estranha sensação de que estamos contribuindo para a condenação de um inocente.
- Como assim? Não considera a mancha do sangue da vítima no acento do carro, a mentira quanto ao seu álibi, a animosidade que existia entre os dois, o próprio telefonema de uma testemunha, já confirmado pela empresa dos telefones, como provas suficientes?
- Tens razão, mas que queres? Por vezes penso que ele tenha algum problema que seja mais penoso enfrentar do que a própria prisão. Vamos acreditar que o advogado que o vai defender, apresente algo que nos escapou.
Entrementes, um funcionário anuncia: - Sr. Inspector! Está aqui a advogada drª. Andreia Gonçalves que lhe pretende falar.
- Não é a filha? Pergunta o inspector ao adjunto franzindo o sobrolho. É sim!
- Mande entrar, diz o inspector, levantando-se da cadeira no que é seguido pelo adjunto, enquanto trocam entre si um olhar surpreso.
Advogada entrando: - Boa tarde! Agradeço que me tenham recebido. Estou aqui para exibir uma prova que inocenta o meu pai!
- E que prova, interrogou o inspector? Ao mesmo tempo que a convidava a sentar-se. A advogada, então, narrou em pormenor os acontecimentos dos últimos dias.
Após uma pausa, provocada pela surpresa, o inspector disse:
- Srª. Drª.! Nada podemos fazer, sem o consentimento do Procurador-Adjunto do Ministério Público. Posso agendar um reunião com ele, onde a Drª. repetirá tudo quanto nos disse aqui. E assim que isso for possível dar-lhe-ei notícia. A advogada, agradeceu e saiu.
Sentada em frente à porta estava uma mulher de preto que a advogada reconheceu como sendo esposa de um amigo de seu pai que, entretanto, ficara viúva. Apresentou-lhe condolências que a viúva agradeceu sensibilizada.
Entretanto o funcionário voltou a entrar no gabinete do Inspector anunciando que uma senhora lhe pretendia falar.
- Quem? – perguntou o Inspector.
- Desconheço. Deve ser viúva, pois está forrada de preto – respondeu.
- Mande entrar – ordenou.
A viúva entrando:
- Bom dia!
Bom dia, responderam o inspector e o adjunto, enquanto este último lhe oferecia uma cadeira onde a senhora se sentou.
- Qual o motivo da sua vinda aqui? - começou o Inspector.
- Venho explicar onde se encontrava o arguido, que está sob prisão preventiva, durante as horas que os srs. consideram como prováveis em que terá sido cometido o crime. Estava em nossa casa.
- Como assim? Interrogou o Inspector.
- Se me permitem – continuou a viúva – vou recuar alguns anos no tempo.