Esta semana houve uma festa no Faial. Não teve banda de música. E também não teve povo. Mas contou com a presença, aliás habitual nas mesmas circunstâncias, de altos dignitários da nossa ilha e até da nossa região.
Estou a referir-me ao lançamento da primeira pedra da obra da Rua das Courelas e da Rua do Algar.
Aquele tipo de encenação é muito habitual e não é só na era democrática em que vivemos há cinquenta anos.
Montou-se o circo, no local da obra, com os discursos costumeiros e aquilo foi uma alegria.
Não acho mal assinalar o início de uma obra pública, tanto mais quando ela tem importância utilitária para as pessoas, como é o caso daquela. Mas a repetição também se torna monótona. Não se vê um rasgo dos políticos no poder, tão fartamente assessorados por gabinetes de comunicação, para introduzirem alguma originalidade quando os protagonistas se querem mostrar.
Manifestado o meu acordo com a sinalização do momento, gostava agora de salientar o que resulta da minha observação, há anos.
Mais uma vez vou recordar o passado recente. É este o meu primeiro reparo.
Temos um Governo Regional e uma Câmara Municipal liderados pelo PSD.
Quando os ditos governos eram do Partido Socialista, participei muitas vezes, por dever de ofício, em acontecimentos relacionados com lançamento de obras. E também com inaugurações. Ouvi, também muitas vezes, que os tais socialistas obrigavam os seus “empregados” a marcar presença. Os “empregados” são os escolhidos e nomeados pelo poder político.
Pelo que vi, agora é a mesma coisa. Os “empregados” é que são outros.
É claro que os “patrões” comparecem para dignificar o ato. Só que, às vezes, não se percebe o que estão lá a fazer.
No caso desta semana tratava-se de uma obra da Câmara Municipal. No entanto compareceram membros do Governo e respetivos séquitos que, tanto quanto é público, não têm nada a ver com aquilo. Admito que o presidente da Câmara se sinta lisonjeado com estas presenças enfeitando o friso das personalidades.
Já sabemos como há de ser quando se tratar de cortar a fita e descerrar a placa, à boa maneira do Estado Novo.
Mas tudo isto é muito pouco importante quando comparado com o relevo da obra.
O que não deixa de ser estranho é a ausência do povo. Isso não interessa às autoridades. Até houve lugar à apresentação do projeto por técnico competente. Os que já conheciam o projeto foram reconhecê-lo, pois só eles constituíam o auditório.
Marca-se a cerimónia para as duas da tarde, hora a que, quem trabalha não pode ir. Marca-se o dia em função do interesse dos altos dignitários. Ou seja, eles fazem a festa para si próprios.
Arrebanham todos os que podem para fazer número e ajudar à festa. Para além de poderem marcar presença, os arrebanhados têm a obrigação de se fazerem notar, não vá o “patrão” ficar zangado e depois reagir como os anteriores a quem os de agora acusavam de manipulação e autores de represálias.
É claro que também comparecem aqueles que o fazem por dever institucional ou por simples cortesia. Nestas ocasiões tenho sempre pena dos senhores de farda que com certeza apenas suportam aqueles repetidos e enfadonhos cerimoniais.
O povo, como não está presente, nem chega a fartar-se. Os emplastros profissionais, esses é que nunca se cansam.