Carlos Faria

O murchar dos cravos das democracias

24 de Abril de 2025


A morte do Papa Francisco coincide com um tempo em que as democracias liberais estão a murchar.

Portugal vai celebrar amanhã a sessão solene do 25 de Abril de 1974 na Assembleia da República num período de luto pela morte do Papa Francisco e em que as bandeiras nacionais estão a meia haste, mas, olhando o País e o Mundo, eu temo que, entretanto, os Cravos de Abril e outras flores da Democracia não tenham sido convenientemente alimentados ao longo dos anos e, como tal, estejam a murchar e a ficar doentes por falta da devida adubação e de tratamento contra pragas que as atacam: os vícios de regime.

A Democracia tem como pilar a satisfação, o mais abrangente possível, do Povo, esta coluna é suportada num modelo de gestão justa dos bens e serviços disponíveis na sociedade. A justiça neste âmbito consiste num equilíbrio precário entre contentar os direitos e os interesses de cada um sem prejudicar ou fazer esquecer os deveres de cada indivíduo ou de estrato da população.

A democracia não se faz sem pluralismo, estes são grupos que elaboram estratégias que devem ser equilibradas e sustentáveis, onde cada um hierarquiza determinadas virtudes existentes entre cada extremo e estabelece os mecanismos reguladores das disfunções também inerentes a esses campos opostos. Assim surgem os partidos do denominado arco da governação que podem cooperar e não se devem deixar prender aos radicalismos, pois estes, por natureza, tendem a rejeitar tudo o que está entre eles.

Não há ideologias perfeitas, daí a por vezes a necessidade e possibilidade de acordos entre moderados, mas, infelizmente, a luta política tem sido feita de modo desregulado e existem fações a procurar satisfazer injustamente a ganância de uns contra os que alimentam insustentavelmente a inveja de outros. Assim se mina o bom-senso que fica engavetado, enquanto outros propagam modelos insustentáveis que depois levam ao acicatar dos ódios entre as partes e dão espaço à expansão dos extremismo.

Infelizmente, com a queda do muro de Berlim, no ocidente a luta política deixou-se aprisionar ao crescimento económico impulsionado pelos maiores grupos empresariais e estes apenas têm um objetivo: o lucro, sem se temperar com os valores de justiça e o descontentamento alastrou-se e a credibilidade das instituições esfumou-se.

Nas ditaduras, onde o poder não é destronado pelo descontentamento com a injustiça associada ao crescimento económico não temperado de equidade, os governantes não têm adversários, aliás eliminam-nos sem consequências. Mas, nas democracias as vítimas tem a arma do voto, o descontentamento leva os eleitores a se agarrarem aos extremos e estes crescem, crescem até democraticamente sufocarem o poder político moderado disfuncional e o substituírem por um extremo.

Infelizmente, é neste período de progressivo sufoco da democracia que o Papa Francisco morreu e enquanto o mundo chora pela perda do líder que defendia a justiça social, as forças políticas moderadas continuam sem conseguir fazer o sistema de capitalismo democrático entrar nos eixos e a democracia definha e os Cravos de Abril murcham e estão em risco de morrer.

Jesus, a fonte da pregação do Papa Francisco, nunca propagou a revolta das bases dos que não tinham nada, nunca foi pelos extremos, apenas apelou ao humanismo, onde os mais afortunados, voluntariamente, fossem capazes de partilhar para deste modo se criar um mundo mais Justo e mais Humano.

Infelizmente, muitos se curvam perante Francisco, mas poucos são capazes de se converter às suas propostas, nem preciso de estender esta conversão à sua crença em Deus, limito-me à simples aceitação do seu modelo social para se viabilizar um mundo social melhor.

Viva ao 25 de Abril e aos valores de uma sociedade livre e justa. 

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