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A Bisneta (Capítulo II)

por Incentivo
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Ao afastar-se ainda ouviu a mãe dizer à filha, com tom severo: – Agora vai sentar-te nos bancos detrás, para não iludires mais ninguém!

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Sentiu-se incomodado, mas nada podia fazer. Uma coisa no entanto decidiu: o baile para ele – que nem devia ter começado – chegara ao fim. Sentou-se a uma mesa, pediu mais uma cerveja que, mal acabasse de beber, retirar-se-ia.

Isso era o que ele preconizara. O destino, porém, tinha outras ideias.

Uma ex-condiscípula, Gilberta, conhecida pelo seu espírito comunicativo, demasiado avançado para a época, sem tampouco pedir licença, sentou-se à mesa.

– Afogando as mágoas recentes?

– Não! Tentando esquecer um problema para o qual contribuí ainda que involuntariamente.

– Enquanto eu bebo a cerveja que me vais oferecer, conta-me tudo tintim por tintim. Há-de haver uma solução.

Contou-lhe toda a história. Entretanto, soaram os primeiros acordes de “La cumparsita”. Ela, pegando-lhe por um braço, sentenciou: – Vamos dançar e mostra-me quem é a rapariga e a bruxa da mãe.

Ele sabia que mesmo desobedecendo-lhe de nada serviria e seguiu-a, apenas advertiu: – Se não queres ser abandonada na sala não armes uma das tuas habituais barracas!

– Eu!!!  Por quem me tomas?

– OH!!! Seria a primeira vez. Respondeu com ironia.

Deram algumas voltas até que ele descobriu a moça que continuava no lugar a que a mãe a condenara. Feita a localização, deram mais umas voltas mas sem perderem a moça de vista.

A certa altura Gilberta ciciou: – Ela tem os olhos fixos em ti!

– Só espero que os olhos dela não sejam flechas, se não fico mais flechado que S. Sebastião. E, pior do que isso, talvez ainda sobrem umas flechas para ti.

– Por acaso, continuou Gilberta, considero o olhar mais docemente suplicante que algum dia me foi dado observar. Mas repara tu! Isto acreditando que tens sensibilidade para tal.

– Logo hoje que eu precisava de algum ânimo, estás agressiva que te fartas, disse, ao mesmo tempo que embora de soslaio dirigiu o olhar para a moça. Quando a olhou de frente, notou-lhe um olhar realmente suplicante e até um esboço de sorriso.

Perguntou então à sua companheira: – O que é que faço?

– Não sabes? Isto explica por que a Eva deu a volta ao palerma do Adão. Vou ensinar-te! Toma bem atenção. Chegas junto da mãe com o ar mais contristado que conseguires e dizes: – Minha senhora! Eu não suporto a ideia de me estar divertindo e a sua filha ali sentada possuída de total tristeza, de que me sinto um pouco culpado. Se ela quiser eu estou disposto a dançar com ela. E se tudo der certo, a moça que nos indique quem é o namorado.

Ele dirigiu-se ao banco onde estava a mãe da moça, transportando consigo todas as incertezas, e cumpriu à risca as instruções que recebera.

A mãe ainda hesitou, mas depois disse: – Olhe! O sr. é bem tolo. Ela não merece isso! E fez um sinal à filha para que se aproximasse.

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