Opinião A história e os caminhos do presente por Incentivo 2 de Julho, 2025 publicado por Incentivo 2 de Julho, 2025 69 visualizações 69 “Até as emblemáticas largadas das regatas do Clube Naval da Horta deixaram de acontecer no redondo da “Doca”. Mais uma tradição travada por entraves desconhecidos”. Celebrar os 192 anos da elevação da Horta de Vila a Cidade No dia 4 de julho, celebramos 192 anos desde que a Horta foi elevada de Vila a Cidade. Em plena Guerra Civil, em 1833, D. Pedro IV reconheceu o valor estratégico da Horta e concedeu-lhe o título, bem como o brasão de armas (hoje secundarizado, incompreensivelmente), em sinal de respeito pela coragem e visão do seu povo. A nossa ilha tornou-se ponto de encontro no Atlântico, cruzando culturas, histórias e vidas. Foi também um tributo à sua gente: hospitaleira, resiliente, moldando o caráter da ilha. Em 1924, Raul Brandão retratou a Horta com ternura: simples, bela, com alma. E essa alma ainda vive. Os faialenses continuam a amá-la como ele a viu, lutando para preservar o que somos e fazer mais e melhor. Há ideias, há vontade, há quem não desista. Se soubermos seguir com o mesmo espírito, com coragem, orgulho e esperança, sendo mais proativos, sem destruir o legado que os nossos antepassados construíram, temos tudo para que a nossa ilha tenha um futuro digno da sua história. Época Balnear: Retrocesso em vez de Progresso Mais uma vez, a época balnear abre tarde no Faial, devido à falta de nadadores-salvadores. Sem políticas que garantam condições dignas e estabilidade laboral, o problema manter-se-á. A precariedade afasta profissionais. Além disso, algumas zonas nem tinham infraestruturas mínimas na data oficial de abertura. Há um retrocesso: no início do século, a época balnear ia de 1 de junho a 30 de setembro; em 2025, muitas zonas com bandeira azul só iniciam em julho. As infraestruturas estão estagnadas há décadas, com escadas desatualizadas e sem seguir bons exemplos como os do Pico. As zonas balneares mantêm-se quase iguais às de há 30 anos, sem requalificações ou modernizações. Persistem erros ambientais, como duches a descarregar no mar, comprometendo a sustentabilidade. É urgente investir com planeamento, inovação e compromisso com a qualidade. Sem isso, continuaremos a regredir onde devíamos liderar. Regatas Nas comemorações da elevação de Vila a Cidade, a Horta volta a afirmar-se como palco de eventos de grande relevo e projeção internacional. Entre eles, destaca-se a XIII Regata Internacional de Botes Baleeiros, que reúne tripulações de New Bedford (EUA), Pico e Faial, e também a emblemática regata Les Sables–Horta–Les Sables, reservada à classe Class40, sem assistência, com 27 embarcações que largaram do Port Olona, no passado dia 28 de junho. Esta regata, que se realiza bienalmente e cumpre em 2025 a sua 10.ª edição, percorre 2.540 milhas náuticas num trajeto de ida e volta entre a cidade francesa e a Horta, passando pelo exigente e tático Golfo da Biscaia. A edição deste ano introduz uma novidade: a etapa de ida é disputada em dupla e a de regresso em solitário, permitindo aos skippers a qualificação para a Transat Jacques Vabre e para a Route du Rhum, respetivamente. A prova está aberta tanto a equipas profissionais como amadoras. Estes eventos, a par da Festa Branca e do tradicional baile do 4th of July no Sporting Clube da Horta, são expressões da nossa identidade, memória e espírito de comunidade. A Horta transforma-se, assim, num ponto de encontro entre pessoas, culturas e comunidades do Atlântico, reforçando o seu papel como elo entre a América e a Europa. É fundamental reconhecer e elogiar o papel da Câmara Municipal da Horta e do Clube Naval da Horta, que, apesar das persistentes omissões do Governo Regional no apoio financeiro a estas iniciativas, têm sido incansáveis em garantir a sua realização. O Faial, Esquecido no Espelho da Diáspora O Faial tem um lugar central na história da diáspora açoriana: da erupção do Cabeço do Fogo (1672) ao Vulcão dos Capelinhos (1957–58), que levou ao Azorean Refugee Act, passando pela baleação americana. Foi na Horta que os EUA abriram o seu primeiro consulado em Portugal (1795) e onde nasceu a geminação com New Bedford, uma das mais antigas e simbólicas entre os Açores e os EUA. Por isso, é incompreensível que o “Sister Cities Summit”, promovido pela Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento, nos seus 40 anos, tenha sido realizado em Ponta Delgada, ignorando a história e simbolismo do Faial. Trata-se de um encontro internacional de localidades geminadas entre Portugal e os EUA e onde a Horta seria o palco natural. Este episódio, somado à transferência da Direção Regional das Comunidades para Ponta Delgada, sem explicações, evidencia o contínuo centralismo e o esvaziamento institucional da ilha. O Faial, que tanto deu à relação luso-americana, merecia mais do que o silêncio e a indiferença. A “Doca” do Porto da Horta Sempre foi um dos lugares mais emblemáticos da cidade, com uma paisagem única: Horta, o Canal e, ao fundo, o Pico. Ali passearam gerações, pescou-se, conviveu-se. Era mais do que betão: era identidade. Mas com a burocracia europeia vieram as barreiras. Disseram que era por segurança e fronteiras. Fecharam acessos, afastaram-se pessoas. A cidade perdeu um pedaço da alma. Houve protestos, promessas da oposição de reabrir a “Doca”. Mas no poder, calaram-se. Nada mudou, salvo raros acessos promovidos por entidades oficiais. A memória foi traída pela conveniência política. Escrevo sobre isto agora porque só agora tive conhecimento que até as emblemáticas largadas das regatas do Clube Naval da Horta deixaram de acontecer no redondo da “Doca”. Mais uma tradição travada por entraves desconhecidos. É triste, indigno e uma afronta à história da cidade e dos faialenses. Milhares de largadas ali ocorreram, com liberdade e orgulho. Época balnearCidadeDocaRegatas Partilhar 0 FacebookTwitterPinterestE-mail publicações anteriores Quatro condenados na Terceira por homicídio e furto qualificados de idoso próximas publicações Touro cai ao mar e morre em tourada na Terceira Leia também Entre a Coesão Perdida à Praia Esquecida 16 de Julho, 2025 Os «ataques preventivos» à luz do Direito Internacional... 10 de Julho, 2025 Não ver é mais fácil, mas ser testemunha... 9 de Julho, 2025 Do aniversário da Horta, às concretizações no Faial 8 de Julho, 2025 Elogio fúnebre 7 de Julho, 2025 A história e os caminhos do presente 2 de Julho, 2025 1 comentário José Manuel Souto Gonçalves 4 de Julho, 2025 - 12:43 É verdade! Tanta propaganda a prometer a abertura da doca na véspera de eleições e tudo continua igual. Mas, este é, apenas, um pormenor de um artigo muito oportuno no aniversário da cidade. 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